Militares israelenses se dividem sobre como responsabilizar Exército

Oficiais de alta patente discutem como fazer para levar à Justiça soldados que combateram em último conflito na Faixa de Gaza

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Militares de Israel discutem calorosamente sobre como cada soldado israelense pode ser legalmente responsabilizado por seus atos durante o último conflito na Faixa de Gaza. O debate coloca em lados opostos advogados militares e comandantes, que acreditam que a ameaça judicial poderia inibir soldados em batalhas futuras, rebaixar a moral das tropas e também destruir a crença fundamental dos israelenses sobre o serviço militar compulsório. A intenção de investigar supostos crimes durante o conflito do ano passado surge depois que o país recebeu duras críticas internacionais sobre a desproporcionalidade da resposta israelense aos mísseis lançados por militantes do Hamas. Durante os 50 dias de conflito em Gaza, mais de 2.100 palestinos foram mortos, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde palestino e a Organização das Nações Unidas (ONU). Do lado israelense, 66 soldados e 6 civis foram mortos. Israel se defende argumentando que apenas excercia seu direito de autodefesa e que a culpa pelo alto número de vítimas civis é do Hamas, que operava à partir de áreas residenciais. O país também afirma que conduz investigações sobre seus militares. No entanto, investigações israelenses raramente acabam em algum tipo de punição. Após uma incursão parecida em Gaza em 2009, apenas quatro soldados sofreram algum tipo de acusação e a maior sentença aplicada foi de três meses e meio. O advogado-geral militar de Israel, Danny Efroni, é visto como o líder do movimento que pede a investigação de soldados. Ele e sua equipe receberam mais de 100 denúncias sobre incidentes do último conflito. O caso mais famoso é o da ação israelense na cidade de Rafah, no sul de Gaza. Na ocasião, um cessar-fogo temporário foi interrompido depois que relatos sobre a captura de um soldado israelense por militantes do Hamas levou Jerusalém a ordenar um ataque massivo de artilharia e ataques aéreos destinados a bloquear qualquer potencial rota de fuga dos sequestradores. Cerca de 200 palestinos morreram na ação, de acordo com movimentos sociais. O exército israelense declarou subsequentemente que o soldado desaparecido havia sido morto em combate. Segundo analistas militares, Efroni leva em conta que investigações conduzidas internamente são preferíveis a inquéritos conduzidos por terceiros. A intenção palestina de fazer parte do Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas, anunciada na semana passada, coloca um peso extra sobre as intenções de Efroni. Uma vez parte da corte de Haia, os palestinos podem acusar militares e líderes israelenses de crimes de guerra. Ainda assim, a ameaça de investigações tem preocupado soldados e comandantes. Um grupo de reservistas fez um apelo a Efroni para não investigar o incidente de Rafah, afirmando que isto seria "ultrajante e preocupante." Para o general de brigada Udi Simhony, um comandante militar aposentado, os processos poderiam afetar a moral dos soldados e fazê-los encobrir eventuais provas na tentativa de se protegerem. "Precisamos parar com isso antes que as consequências nos prejudiquem sem misericórdia", ele escreveu em um artigo publicado no portal de notícias Walla. / AP.

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