Moderados buscam espaço em eleição no Irã após acordo

No entanto, para observadores, ainda pode ser cedo para essa ala, do presidente Rohani, colher os frutos da negociação nuclear

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Por Renata Tranches 
Atualização:

Iranianos irão às urnas na sexta-feira para renovar o Parlamento e a influente Assembleia dos Especialistas em um primeiro e grande teste para os moderados e reformistas após a negociação internacional em torno do programa nuclear do país.

Apesar do clima de otimismo que antecedeu a eleição, na opinião de analistas e observadores, não estava claro se os efeitos da negociação - o levantamento das pesadas sanções sobre a economia iraniana - terão impacto para os alinhados ao moderado presidente Hassan Rohani.

Iranianos distribuem panfletos de candidatos na capital do país, Teerã Foto: AFP / ATTA KENARE

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Na sexta-feira passada, primeiro dia de uma curta campanha que antecede a votação, iranianos foram para as ruas para apoiar essa corrente, na qual cada ação é cuidadosamente vigiada pelos conservadores da política do país. No centro de Teerã, homens e mulheres, como relatou a agência Associated Press, gritavam frases como “reformas vencerão as eleições”.

Para o iraniano Hassan Hakimian, diretor do London Middle East Institute (Londres), não há dúvidas de que a negociação internacional representou uma vitória para Rohani, ainda que tudo tenha ocorrido sob o aval do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei. Na sua opinião, o presidente merece o mérito por tornar a negociação uma prioridade e por considerar as tensões internacionais com relação ao programa um conflito absolutamente desnecessário. 

O Irã passou por período de animosidade internacional alimentada principalmente pela retórica inflamada do ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad e centrada nas desconfianças com relação ao programa nuclear que o país sempre assegurou ser pacífico. Mas em 2013, cansados dos efeitos que as sanções causaram para a economia do país, os iranianos elegeram Rohani, que destravou as negociações e levou o Irã de volta ao mercado internacional.

No entanto, a aplicação do acordo está apenas começando. “Levará algum tempo para um impacto real na vida das pessoas. Por isso, o efeito para as eleições será basicamente psicológico”, afirmou Hakimian, em entrevista ao Estado.

O Parlamento iraniano, unicameral, está dividido, na prática, em correntes, não em partidos, e é dominado há anos pelos conservadores. A inscrição para concorrer às eleições é livre, mas os nomes passam pelo crivo rigoroso do Conselho dos Guardiões. A mídia estatal iraniana afirmou, na quinta-feira, que de 12 mil nomes inscritos, 6,2 mil, incluindo 586 mulheres, foram aceitos para concorrer a uma das 290 vagas do Parlamento. Veículos internacionais têm noticiado que reformistas e moderados decidiram se unir para tentar crescer em número de cadeiras e desafiar os conservadores no Legislativo. A votação será um teste também para Rohani, que disputará a reeleição no ano que vem.

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Em recente entrevista ao Estado, o embaixador do Brasil no Irã, Santiago Irazabal Mourão, relatou que a percepção que se tem da comunidade internacional em Teerã, da qual ele disse compartilhar, é que se a negociação tivesse ocorrido um pouco mais cedo e a população pudesse notar alguma mudança, o impacto seria maior. Mesmo assim, há otimismo entre a população, explica.

“Evidentemente, a população iraniana está muito esperançosa de que Rohani poderá levar adiante um projeto de modernização da economia, de crescimento do país.”

Na sexta-feira, haverá também eleição para a Assembleia dos Especialistas, acompanhada com especial atenção internacional, uma vez que possivelmente sua nova composição escolherá o líder supremo que substituirá Khamenei, de 76 anos, - será apenas o terceiro desde a Revolução Islâmica de 1979. Além de escolher, cabe ao estratégico órgão monitorar o desempenho do líder supremo, quem tem a última palavra em todos os assuntos do país. As 88 vagas serão renovadas para um mandato de oito anos.

 
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