Movimento negro denuncia injustiça policial nos EUA 

De acordo com historiador, Black Lives Matter tem mudado a maneira como os americanos encaram as abordagens da polícia 

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Por Renata Tranches 
Atualização:

Com objetivos muito definidos, mobilização nas ruas e mensagem amplificada pelas redes sociais, o grupo Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) tornou-se um dos movimentos sociais mais importantes dos EUA na atualidade. Com grande apoio da população, segundo analistas, suas ações estão mudando um discurso americano de “criminalidade de negros” para a “injustiça da brutalidade policial”. 

O movimento nasceu nas redes sociais em 2013 como a hashtag #Blacklivesmatter logo após o veredicto que inocentou o segurança George Zimmerman de matar o menino negro Trayvon Martin. O rapaz, de 17 anos, estava desarmado e foi morto com um tiro disparado contra seu peito em fevereiro de 2012 no Estado da Flórida. 

Um protesto do movimento "Black Lives Matter" fora do QG da Semana de Moda Masculina de Nova York. Foto: Guy Trebay/ The New York Times

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A decisão judicial despertou a indignação e milhares foram para as ruas em protesto, naquele que seria o início de uma onda de manifestações que está mudando a forma como os americanos veem a questão da violência policial no país. 

Segundo o historiador da Texas Tech University Matthew Johnson, especializado em movimentos sociais e implementação dos direitos civis nos EUA, por décadas, os grupos que desafiaram as práticas policiais e as leis punitivas contra negros no país não conseguiam amplo apoio. 

“O que é tão significante sobre esse movimento (Black Lives Matter) é que, apenas uma década atrás, as pessoas que sofriam com a brutalidade policial eram simplesmente endemoniadas pela grande mídia como criminosos”, afirmou Johnson, em entrevista ao Estado. “O Black Lives Matter tem mudado essa percepção, chamando a atenção dos americanos para as práticas injustas da polícia.” 

Um estudo da Escola de Comunicação da American University, em parceria com pesquisadores da New York University e da University of North Texas, mapeou a atuação do movimento nas redes sociais e concluiu que um dos principais pilares de seu sucesso é a capacidade de se articular nas redes sociais, levando sua narrativa ao público sem passar pela grande mídia. 

No entanto, o estudo diz que somente isso não seria suficiente. As novas mídias ajudaram a dar voz a uma mobilização que já estava nas ruas e tem objetivos muito específicos. Ele compara, por exemplo, a movimentos como a Primavera Árabe, que buscava derrubar governos, ou o Occupy Wall Street, com críticas ao capitalismo. “O Black Lives Matter demanda formas específicas de reparação de uma questão política, legal e policial muito bem definida”, afirma o estudo. 

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Expansão. Depois de se tornar um movimento oficial, o Black Lives Matter passou a se organizar nacionalmente. Há pelo menos 30 ramificações nas cidades americanas com demandas muito específicas. As reivindicações se adaptam à realidade de cada uma delas. Na região de San Francisco, por exemplo, seus ativistas fazem campanha com outros grupos para o aumento do salário mínimo para US$ 15 a hora – atualmente em US$ 10. 

A crítica do historiador é que nem todos os que militam no movimento compreendem essa nuance que vai além da violência policial. “A brutalidade policial é uma questão muito importante, mas é uma parte de um grande sistema que tem prejudicado as comunidades afro-americanas.”

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