PUBLICIDADE

Mugabe renuncia à presidência do Zimbábue após 37 anos no poder

Político de 93 anos estava à frente do país desde a independência, em 1980, e decidiu deixar o cargo pouco depois de o Parlamento iniciar processo para destituí-lo; em carta, ele disse desejar uma transição de poder 'tranquila, pacífica e não violenta'

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

HARARE  - O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, renunciou nesta terça-feira, 21, ao cargo, após 37 anos no poder em uma carta entregue ao Parlamento momentos antes de ter sua destituição votada pelos congressistas. O vice-presidente Emmerson Mnangagwa deve assumir o poder em dois dias. A renúncia põe fim a quase quatro décadas de um governo marcado pela autocracia, má gestão econômica e abuso de direitos humanos. 

PUBLICIDADE

Mugabe: de herói nacional a déspota disposto a matar pelo poder

“Eu, Robert Gabriel Mugabe, apresento formalmente a minha renúncia à presidência da República do Zimbábue com efeito imediato”, disse Mugabe na carta de renúncia lida no Congresso. “Escolhi me demitir voluntariamente. Esta decisão foi motivada por meu desejo de assegurar uma transferência de poder tranquila, pacífica e não violenta.”

Mugabe renunciou à presidência do Zimbábue após 37 anos no poder; há uma semana ele era mantido em prisão domiciliar após intervenção do Exército Foto: AP Photo/Jerome Delay

O chefe do Exército, Constantino Chewenga, que articulou a prisão domiciliar de Mugabe, pediu que todos os partidos políticos mantenham a calma durante a transição. 

Em entrevista ao canal de TV ANN7, Kennedy Mandaza, o porta-voz do partido de Mugabe ( Zanu-PF) disse que a tendência dentro do partido após a renúncia é “descentralizar o poder para que não se concentre em um só centro”. 

+ Cronologia: os 15 dias que derrubaram Mugabe

Segundo Mandaza, a descentralização foi discutida pelo Comitê Central do partido. Um novo congresso extraordinário do Zanu-PF foi convocado para dezembro para discutir as novas diretrizes. 

Publicidade

As ruas de Harare, a capital do Zimbábue, foram tomadas por buzinas, danças e gritos depois da renúncia de Mugabe. Robert Mugabe, herói da guerra da independência, liderou seu país por 37 anos com punho de ferro, amordaçando a oposição e arruinando a economia do país. As ruas no entorno do Parlamento foram tomadas pela multidão.

“Estamos muito contentes que as coisas vão mudar”, disse Togo Ndhlalambi, um barbeiro de 32 anos que festejava a queda de Mugabe em Harare.

"Estou muito feliz. 37 anos de ditadura não é uma brincadeira”, disse a estudante Tinashe Chakanetsa. “Espero um Zimbábue comandado pelo povo e não por uma pessoa.+O dia em que Bob Marley tocou na festa de independência do Zimbábue

Desde a intervenção militar há uma semana, provocada pela demissão de Mnangagwa, o presidente Mugabe perdeu, um a um, seus apoios. 

A Plataforma de Cidadãos Preocupados, um dos principais grupos que representam a sociedade civil no Zimbábue, pediu um diálogo nacional amplo que envolva todos os partidos políticos do país. “Uma Autoridade Nacional de Transição deve ser produto desse diáologo”, disse a entidade. “Informamos o governo e o Exército da nossa intenção.”

Não há nada a ser comemorado no Zimbábue

Publicidade

Repercussão

A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse nesta terça-feira, 21, que a renúncia de Robert Mugabe à presidência do Zimbábue é uma oportunidade para o país seguir um caminho distinto da opressão que caracterizou seu governo de 37 anos.

 

“O povo do Zimbábue mostrou que quer eleições livres e justas e a oportunidade de reconstruir a economia sob um governo legítimo”, disse May. “O Reino Unido é o amigo mais antigo do Zimbábue e ajudará o país a chegar a um futuro brilhante.”

A Embaixada dos Estados Unidos em Harare emitiu nota na qual afirma que a renúncia de Mugabe é um momento histórico para o país. A representação diplomática parabenizou os zimbabuanos por levantarem a sua voz e pediu que arranjos de curto prazo levem a eleições livres, justas e amplas. “Defendemos o respeito inequívoco ao Estado de Direito”, conclui a nota./ AFP, EFE, REUTERS e AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.