Mulheres são traficadas para prostituição em países ricos

Ao pedirem ajuda para autoridades locais, muitas das vítimas recebem ameaças de deportação; em casos extremos, acabam presas

PUBLICIDADE

Por Adriana Carranca e Londres
Atualização:
A colombiana Marcela Loaiza foi obrigada a se prostituir em Tóquio quando tinha 21 anos Foto: Adriana Carranca/Estadão

A colombiana Marcela Loaiza tinha 21 anos quando foi abordada por um estranho que lhe prometeu emprego como dançarina fora do país. Marcela, que já trabalhava como dançarina para sustentar a filha que criava sozinha, decidiu partir quando a menina foi internada com um problema respiratório. "Eu não tinha como pagar a conta. Pedi à minha mãe que cuidasse dela e prometi que voltaria logo com dinheiro para pagar a dívida."

PUBLICIDADE

Marcela foi mandada para o Japão e obrigada a se prostituir nas ruas de Tóquio. Ela conseguiu escapar com a ajuda de um cliente. "Muitas mulheres como eu, ao invés de receber ajuda, são tratadas como criminosas. Eles (as autoridades) nos culpam por nossas decisões, enquanto os traficantes continuam soltos e enriquecendo com os bordeis.

Outra vítima de traficantes, Ellie* viveu com a família no leste da África até os 6 anos, quando o pai a entregou para uma família que ele julgava ter melhores condições para cuidar da menina. No entanto, Ellie passou a viver como escrava na nova casa. Na adolescência, o pai "adotivo" passou a abusar sexualmente dela e, mais tarde, vendeu-a para outro homem. Ellie foi traficada para a Inglaterra e forçada a se prostituir.

Muitas mulheres como eu, ao invés de receber ajuda, são tratadas como criminosas

Um ano depois, Ellie conseguiu escapar. A primeira coisa que fez foi ligar para a polícia, mas em vez de ser protegida foi presa pelas autoridades de imigração por estar no país ilegalmente - as autoridades ameaçavam deportá-la. Ellie passou quase um ano na prisão até ser solta graças ao trabalho pró-bono do advogado de uma organização britânica chamada Projeto Poppy, que assumiu o seu caso.

Na semana passada, o novo comissário do governo britânico para o programa contra a escravidão, Kevin Hyland, fez um pedido público de desculpas a Ellie. Ele disse que "a reação da polícia, de procuradores e juízes ao apelo da vítima colocava em dúvida a intenção das autoridades em ajudar pessoas traficadas para o país". "O que aconteceu com Ellie foi errado e meu papel é garantir que um erro como este não ocorra mais."

"Eu fui espancada e obrigada a me prostituir. Quando achei que seria salva, me colocaram em uma prisão", disse Ellie. "Eles não acreditaram em mim."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.