Musharraf prende extremistas islâmicos, mas não acalma Índia

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A polícia paquistanesa prendeu hoje mais de 200 extremistas islâmicos - alguns dos quais acusados de envolvimento no ataque suicida ao Parlamento indiano em 13 de dezembro, que deixou 14 mortos e 17 feridos. A decisão não acalmou a tensão na militarizada fronteira entre os dois países. Em novas e intensas trocas de tiros, 12 pessoas morreram - a maioria do lado paquistanês. As detenções ocorreram em Karachi, algumas horas antes de um discurso do presidente Pervez Musharraf, em que este - embora reiterasse a disposição de seu país de combater "até a última gota de sangue" para defender suas posições - anunciou medidas para conter os extremistas, principalmente os empenhados na luta para anexar a Caxemira indiana (de maioria muçulmana) ao Paquistão. A Índia acusa o Paquistão de estimular os movimentos separatistas, que têm bases em seu território. Paquistão e Índia já travaram três guerras desde sua independência da Grã-Bretanha em 1947 - duas delas pela disputa da Caxemira. Pressão - A última blitz contra os extremistas paquistaneses ocorreu dias atrás, na província de Sindh. Cerca de 30 militantes foram detidos - a maioria membros dos movimentos Jaish-e-Muhammed e Lashkar-i-Tayyaba. Os líderes máximos desses grupos - acusados pela Índia de mentores dos atentados em Nova Délhi e na Caxemira indiana - estão sob prisão domiciliar. As prisões ordenadas por Musharraf, sob intensa pressão dos Estados Unidos, não são consideradas suficientes pelas autoridades indianas. Nova Délhi também não fez declarações sobre o discurso, mas o analista de assuntos de defesa C. Rajamoham disse, em entrevista pela emissora de televisão local, que a locução do mandatário paquistanês foi "muito valente sobretudo em relação à Caxemira". Segundo Rajamohan, a afirmação de Musharraf de que não permitirá que ninguém fomente o terrorismo em nome da Caxemira foi "muito próxima às exigências da Índia". O governo indiano exige não só o banimento dos grupos extremistas e como também o congelamento dos fundos bancários que os sustentam. Exige também a extradição de pelo menos 20 extremistas islâmicos, que acusa de implicação direta no ataque a seu Parlamento. Os Estados Unidos esperam que Musharraf satisfaça em parte as reivindicações da Índia para reduzir a ameaça de uma nova guerra entre os dois países, que, hoje, integram o clube atômico. Mas o secretário de Estado, Colin Powell, advertiu o governo indiano de que não deve aguardar efeito imediato do pronunciamento de Musharraf. Em resposta, o ministro da Defesa indiano, George Fernandes, declarou que a Índia dá prioridade a uma solução diplomática da crise, porém quer ver algo mais que retórica. Guerra - Ontem, o chefe das Forças Armadas indianas, general S. Padmanabhan, voltou a advertir que seu país está pronto para a guerra contra o Paquistão. "Não concentrei homens e armas ao longo de nossas fronteiras apenas para realizar exercícios militares", repetiu. "Eles (os soldados) estão ali para lutar, para defender o país." O comandante indiano reafirmou que seu país só recorrerá a "armas atômicas se for agredido com armas atômicas". Ele classificou um eventual conflito nuclear de catastrófico para o sul da Ásia. Mas ameaçou: "O país que usar armas nucleares contra a Índia sofrerá um castigo tão severo que sua sobrevivência será duvidosa." Já o ministro da Defesa, George Fernandes, foi mais cauteloso e diplomático no trato dessa questão. Ele acredita que jamais haverá o recurso a esse tipo de armamento por parte dos dois países. "Essas armas são um assunto muito mais sério, que deve ser tratado por cavalheiros", destacou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.