Na China, morte de Fidel Castro é lembrete de mudança de rumos no comunismo

Após estabilização das relações diplomáticas em 1960, os destinos dos países divergiram: a China começou a adotar reformas e se transformou numa potência econômica em que o comunismo se manteve apenas no nome enquanto Castro persistiu sob os ideais do marxismo

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Por Associated Press
Atualização:
Fidel Castro em julho de 2006 Foto: Jose Goitia|The New York Times

Pequim - Sob as sombras dos enormes prédios espelhados de Pequim, idosos aposentados ainda falam de forma nostálgica sobre os distantes camaradas cubanos com os quais se uniam pelo laço da solidariedade comunista. Nos centros de poder, porém, Cuba é vista ultimamente com menos romantismo e sim como um mercado para as crescentes exportações chinesas. 

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Vista do maior país comunista do mundo, a morte de Fidel Castro é um lembrete de como os rumos mudaram para além do que se pode lembrar desde que o revolucionário barbado passou a ocupar papel relevante na política mundial ao lado de lideres como Mao Zedong. 

Depois da estabilização das relações diplomáticas em 1960, os destinos dos países divergiram: a China começou a adotar reformas e se transformou numa potência econômica em que o comunismo se manteve apenas no nome enquanto Castro persistiu sob os ideais do marxismo. 

Hoje os líderes dos dois países com frequência acenam para seu passado de ideologia comum, mas as relações bilaterais estão mais ligadas ao desenvolvimento conjunto de resorts a investimentos chineses em telecomunicações. Em uma visita em setembro, o premiê chinês Li Keqiang ofereceu apoio ao desenvolvimento cubano, como um "camarada e irmão" enquanto Castro elogiou a China pelo crescimento que havia obtido. 

Em cerca de US$ 2,2 bilhões por ano, o comércio entre os dois países é pequeno frente às transações chinesas com o restante da América Latina, as quais somam US$ 236 bilhões. Mas a China é o principal credor de Cuba e maior segundo maior parceiro comercial, depois da Venezuela. 

"Depois que a China aprofundou a reforma abriu sua economia, o desenvolvimento bilateral de laços entre China e Cuba não se concentrou muito em ideologia", disse Zhu Feng, do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade de Nanjing. "Desenvolvimento econômico e cooperação, que são benéficos para a economia e o desenvolvimento social em ambos os países, se tornaram mais importantes"

As forças geopolíticas se realinharam desde o que, em fevereiro de 2006, Fidel doente passou a presidência de Cuba ao seu irmão Raúl Castro. Em 2011, ele renunciou ao secretariado geral do Partido Comunista de Cuba. A ilha restaurou as relações diplomáticas com os Estados Unidos no último ano, uma aproximação que a China viu com cautela. 

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Embora a morte de Fidel Castro aos 90 anos não seja vista como uma mudança para as relações entre Cuba e China, a notícia foi recebida com um senso genuíno de pesar e nostalgia na China. 

A TV estatal chinesa mostra horas de filmagens históricas neste sábado, destacando o carisma e a convicção ideológica de Fidel Castro. 

Nos becos próximos ao brilhante complexo do World Trade Center chinês, em Pequim, idosos neste sábado falavam do legado do homem que surgiu com força durante a época da juventude deles. 

"Era uma boa pessoa", disse Zhang, de 78 anos. "Cuba é nossa amiga e eu ainda lembro de participar do protesto contra os Estados Unidos quando tinha 20 anos", completa. "O nosso açúcar era de Cuba". 

Liang Yongxing, de 60 anos, disse que se sentiu surpresa com a notícia da morte do antigo líder cubano. "Excluindo a Coreia do Norte, acho que ele era a última pessoa que era ligada ao socialismo puro", concluiu.