Na cobertura da guerra, duas "classes" de jornalista

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Por Agencia Estado
Atualização:

A diferença entre os jornalistas "embutidos" - embedded - que acompanham as forças invasoras, aceitando a condição e os limites que lhes são impostos, e os que trabalham de forma independente se evidencia com o fato de que os primeiros contam com alguma proteção e os segundos, profissionais em perigo constante. Do ponto de vista do Pentágono, ratificado hoje após o ataque da coalizão contra o Hotel Palestine, onde morreram dois jornalistas, os "embutidos" usufruem de uma grande vantagem, já que os que disparam contra eles são apenas os iraquianos. Desde o início da guerra, o Pentágono vem dizendo que não pode garantir a integridade dos jornalistas que operam livremente no Iraque. Em compensação, os generais americanos e britânicos enfrentam uma responsabilidade maior em relação aos repórteres que são seus convidados oficiais, que compartilham com os soldados o cotidiano do conflito e estão na linha de frente. A experiência dos "embutidos" permitiu, pela primeira vez, que os telespectadores recebessem imagens extraordinárias da frente de batalha, tais como flashes diretos dos combates e do rápido avanço das forças da coalizão em direção a Bagdá. Ao mesmo tempo, isto gerou polêmicas sobre a "independência" das notas, freqüentemente tingidas de simpatia pelos soldados das unidades em que se encontram os repórteres. Diversa é a atitude e a liberdade de que gozam os enviados independentes, muitos dos quais se encontravam justamente em Bagdá, no Hotel Palestine. Embora o Pentágono tenha expressado suas "condolências", defendeu-se dizendo que havia advertido os meios de comunicação de que "Bagdá não é um lugar seguro". Segundo a versão do Departamento de Defesa, as forças americanas que "se sentiram atacadas por alguém que disparava de dentro do hotel" exerceram seu "direito de autodefesa" abrindo fogo contra o hotel e os jornalistas. No entanto, até agora foi impossível encontrar alguém que tenha visto ou ouvido sequer um disparo a partir do Palestine. Também é verdade que tais diferenças não garantem tampouco a integridade dos repórteres "embutidos" nas forças americanas. A série de "fatalidades" para a imprensa foi inaugurada em 3 de abril pelo jornalista do Washington Post, Michael Kelly, que se afogou em um rio quando o veículo em que viajava tentava evitar o fogo inimigo. No dia 6 de abril, morreu um jornalista da rede americana NBC, David Bloom, em conseqüência de uma embolia provavelmente provocada por ter tido de permanecer imóvel, durante horas, dentro do veículo em que viajava. Ontem morreram o alemão Christian Liebig e o espanhol Julio Anguita Parrado, atingidos por um míssil ao lado de dois soldados da Terceira Divisão de Infantaria, na qual estavam "embutidos". Veja o especial :

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