Não confio nem na minha escolta, disse Nisman antes de morrer

Promotora argentina que investiga o caso descarta indiciar Diego Lagomarsino por envolvimento com morte do promotor do caso Amia

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Atualização:
Equipes policiais recolhem material no escritório do promotor Nisman Foto: Reuters

BUENOS AIRES- Última pessoa a ver o promotor argentino Alberto Nisman antes de sua morte, o técnico em informática Diego Lagomarsino disse ontem que o procurador lhe pediu a arma com a qual foi morto porque não confiava nos guarda-costas que o protegiam. Nos últimos dias, o governo da presidente Cristina Kirchner tentou vincular Lagomarsino ao caso. A promotora que investiga a morte de Nisman, no entanto, descartou indiciá-lo.

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“Eu não confio nem nos seguranças”, teria dito Nisman a Lagomarsino, segundo o relato do técnico em informática. “Tenho mais medo de estar certo do que de estar errado.”

Nos últimos dias, ao menos três seguranças que trabalhavam na escolta do promotor foram afastados depois de terem sido encontradas contradições em seus depoimentos. Nisman foi encontrado morto no dia 18, um dia antes de apresentar ao Congresso a denúncia de que Cristina e o chanceler Hector Timerman teriam encoberto suspeitos iranianos no atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), que matou 89 pessoas em 1994, em troca de acordos comerciais.

 Lagomarsino deu ontem uma entrevista coletiva em Buenos Aires na qual falou pela primeira vez sobre o crime e sua relação com Nisman. Segundo ele, o promotor lhe telefonou no dia anterior ao crime e pediu para encontrá-lo. Ao chegar ao apartamento, no bairro de Puerto Madero, encontrou Nisman trabalhando sobre uma pilha de papéis. 

Você tem uma arma? Preciso de uma para o caso de algum maluco me atacar me chamando de traidor filho da... Tenho medo pelas minhas filhas

"Você tem uma arma? Preciso de uma para o caso de algum maluco me atacar me chamando de traidor filho da... Tenho medo pelas minhas filhas", teria pedido o promotor. “Não se preocupe. Não vou usá-la.”

Lagomarsino disse que concordou em emprestar a pistola .22 por ter se compadecido da situação de Nisman. “O pedido me deixou totalmente surpreso. Eu não entendia nada. Porque um chefe pediria isso a um subordinado. Não acreditava que estivesse me pedindo aquilo”, disse Lagomarsino. “Lamentavelmente, concordei.”

Viviana Fein, a promotora que cuida do caso, afirmou ontem que não indiciará o técnico em informática pela morte do promotor. Lagomarsino, no entanto, responderá por ser o dono da arma do crime e pode ser condenado de 1 a 6 anos de prisão. “Até agora, não há nenhum elemento que possa implicá-lo em crime doloso”, disse.

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Denúncias. Mais cedo, o advogado de Lagomarsino, Maximiliano Rusconi, disse em entrevista à Rádio Mitre que  pedirá à Justiça que Cristina e seu chefe de gabinete, Aníbal Fernández, deponham sobre a morte de Nisman

“ Vou sugerir que a presidente e Anibal, já que têm tantas informações, se apresentem para depor”, disse. Na segunda-feira, Cristina disse que Lagomarsino era um “fervente opositor do governo” e recordou da relação que ele tinha com Nisman. 

“Ele foi a última pessoa que viu Nisman vivo, falou com ele e era de sua íntima confiança e amizade. Frequentava, como sabemos, seu apartamento. Deu-lhe a sua própria arma”, disse Cristina na segunda-feira em pronunciamento na TV. “Além disso, essa pessoa é um feroz opositor do governo. Podemos ver no Twitter as grosserias e os insultos dirigidos a mim.”

Em meio às investigações, a Polícia Federal Argentina decidiu afastar ontem o terceiro oficial responsável pela segurança de Nisman. Ele vivia sob proteção de dez policiais. 

Segundo uma fonte da Justiça argentina, Rubén Benitez era da confiança do promotor e o tinha convencido a não comprar uma arma poucos dias antes de sua morte. Os outros dois oficiais afastados foram identificados como Armando Niz e Luis Ismael Mino. / AFP

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