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Não dá para comparar caso Comey a Watergate

Apesar de 48 dos 336 congressistas republicanos terem criticado a decisão, a base está dedicada à proposta de cortes de impostos

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Por Helio Gurovitz
Atualização:

Democratas ficaram ouriçados com a possibilidade de usar a demissão do diretor do FBI, James Comey, para forçar a indicação de um promotor especial que investigue as suspeitas sobre as ligações entre o governo russo e a campanha eleitoral de Donald Trump. A decisão levanta dúvidas legítimas sobre a motivação de Trump. Mas não faz sentido comparar o episódio às tentativas de acobertamento no escândalo Watergate.

Nixon, republicano, iniciou seu mandato em 1969 e negociou a retirada das forças americanas durante a Guerra do Vietnã. Renunciou em 9 de agosto de 1974, em razão do escândalo Watergate, pouco antes da votação pelo Congresso da cassação de seu mandato Foto: Foto oficial Casa Branca

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No episódio do Massacre de Sábado à Noite, em outubro de 1973, o presidente Richard Nixon mandou demitir o promotor especial Archibald Cox, que intimara a Casa Branca a entregar as gravações de conversas no Salão Oval. Foi o início da onda que, dez meses depois, levaria Nixon a renunciar para evitar o impeachment. Tal cenário é hoje remotíssimo. Primeiro, porque não há investigação aberta contra Trump, como ele próprio enfatizou na carta de demissão de Comey. Segundo, porque a saída de Comey não traz problema para o governo no Congresso.

Apesar de 48 dos 336 congressistas republicanos terem criticado a decisão, a base está dedicada à proposta de cortes de impostos. A aprovação do governo Trump entre republicanos é de 84%, segundo o instituto Gallup. A demissão de Comey é apoiada por 79% dos republicanos (embora reprovada por 54% dos americanos), de acordo com a SurveyMonkey. Para 78% deles, a conexão russa é apenas uma distração. Nada a ver com clima de revolta dos tempos de Watergate.

Os bastidores da vitória de Macron

Bastaram 24 horas para a rede francesa TF1 levar ao ar o documentário Les coulisses d’une victoire (Os bastidores de uma vitória), fruto do acesso exclusivo à campanha do novo presidente francês, Emmanuel Macron. Num ato de desprendimento incomum entre políticos, Macron topou ser seguido pelas câmeras desde 200 dias antes do primeiro turno. 

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Sem narração, microfones ligados o tempo todo, elas flagram os momentos de tensão, as dúvidas estratégicas, as broncas na equipe, as reações ao noticiário, as ironias nas discussões internas, os bastidores dos comícios e debates eleitorais, os cochilos de exaustão, as dores nas costas, as risadas ao lado da mulher após a ovada que Macron leva em visita a uma feira agrícola, o café que ele mesmo prepara aos assessores em casa – não é Nespresso –, a parada para comer num restaurante de beira de estrada, o telefonema em que Barack Obama lhe dá dicas antes da votação e a questão singela que lhe faz um menino durante a visita às Ilhas Reunião: “Como a gente faz para se tornar presidente?” É o que Macron começa a descobrir hoje.Erro das pesquisas foi maior na França As pesquisas erraram o resultado do segundo turno da eleição francesa por uma margem bem maior do que no Brexit ou na vitória de Donald Trump. A diferença de Macron para Marine Le Pen, estimada em 22 pontos na antevéspera, ficou em 32,2 no dia da votação. Foi um desvio de 10,2 pontos do alvo, superior ao recorde anterior: 8,4 pontos, em 2002, quando Jacques Chirac derrotou o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen. Em votações recentes na Áustria, na Holanda, na Finlândia e na Bulgária, as pesquisas também superestimaram a força eleitoral da extrema direita, revela uma análise do FiveThirtyEight.A crise latente entre Merkel e Macron A vitória de Macron foi um alento para os eurófilos, em especial para a chanceler alemã Angela Merkel. Mas o projeto dele para a Europa envolve um tabu para Merkel: o plano de união fiscal, com um ministro das Finanças único e um orçamento financiado por transferências dos Estados-membros. É isso, diz Macron, ou arriscar novas crises financeiras como a grega – e o crescimento dos partidos extremistas no continente.A colaboração da ‘AP’ com os nazistas A agência de notícias Associated Press reconheceu, em relatório, ter mantido um acordo secreto com os nazistas para obter, durante a 2.ª Guerra, fotos distribuídas a jornais americanos. Em troca, a AP compartilhava com eles imagens da guerra do lado aliado, que passavam pela censura e eram publicadas por jornais nazistas.

ESTILO “É preciso correr riscos. Se for para seguir os caras da segurança, você acaba como Hollande – em segurança, mas morto” Emmanuel Macron, ao repreender sua equipe de campanha

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