NSA forneceu dados sobre treinamento dos irmãos Kouachi

Vilã no escândalo da espionagem, agência informou à França que os terroristas tinham sido treinados no Iêmen

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Por Cláudia Trevisan , correspondente e Washington
Atualização:
Câmera de segurança registrou chegada de homens armados à redação da Charlie Hedbo, onde 12 pessoas foram mortas em ataque Foto: AFP

WASHINGTON - Sob ataque no ano passado depois das revelações de Edward Snowden, a NSA (Agência de Segurança Nacional) está sendo apontada como uma ferramenta essencial no combate ao terrorismo por especialistas dos EUA que defendem maior cooperação entre os serviços de inteligência europeus e americano em consequência dos atentados que deixaram 17 vítimas em Paris na semana passada.

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Os espiões dos EUA foram os que informaram a seus colegas franceses que os irmãos Kouachi, responsáveis pelo ataque ao jornal Charlie Hebdo, haviam sido treinados no Iêmen. “Como as comunicações se expandiram de maneira dramática nos últimos anos, a maioria da supervisão é feita por inteligência eletrônica e quem sabe fazer isso é a NSA”, afirmou Daniel Byman, especialista em contraterrorismo e segurança no Oriente Médio do Brookings Institution.

A cooperação também será importante para reduzir os custos representados pela necessidade de monitorar centenas de cidadãos que se alistam como combatentes na Síria e no Iraque e voltam a seus países, ressaltou Daniel Benjamin, responsável pela área de contraterrorismo do Departamento de Estado entre 2009 e 2012.

Número estimado entre 2 mil a 3 mil cidadãos europeus se alistaram como jihadistas na Síria e no Iraque. Cerca de metade deles voltou a seus países de origem, o que coloca as autoridades na difícil posição de decidir quais serão monitorados. Os irmãos Kouachi, por exemplo, saíram da lista de pessoas sob supervisão poucos meses antes do ataque em Paris.

Em evento sobre combatentes estrangeiros realizado ontem no Brookings, Benjamin avaliou que a principal ameaça não vem dos que deixam os seus países, mas dos que permanecem e cometem atos individuais para mostrar sua lealdade à jihad internacional.

Em uma tentativa de desenhar iniciativas globais para evitar a radicalização de jovens, a Casa Branca marcou uma cúpula internacional sobre prevenção do extremismo violento, que será realizada em Washington no dia 18 de fevereiro.

Coautor de estudo sobre a ameaça de combatentes estrangeiros divulgado ontem no Brookings, Jeremy Shapiro afirmou que esse risco não deve ser exagerado. Segundo ele, os governos contam com instrumentos para limitar a ação desses indivíduos, que são menos preparados para cometer atos terroristas do que se supõe.

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Para Benjamin, os atentados recentes mostram uma mudança de tática dos terroristas, com redução do uso de bombas em atentados de grande escala e a preferência por ações mais limitadas, com armas de fogo.

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