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O jogo perigoso dos separatistas da Catalunha

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Por Gilles Lapouge
Atualização:

Os independentistas ganharam. Mas, infelizmente, perderam.
Ganharam, porque o bloco favorável à independência, Junts pel Sí (Unidos pelo Sim) escolheu 62 deputados. Ao lado deles, outro bloco que reclama a independência, o CUP, terá 10 deputados. O resultado não deixa dúvidas: os independentistas terão a maioria absoluta das cadeiras. No entanto, eles perderam. De fato, se considerarmos não o número de cadeiras por eles conquistadas, mas o número dos votos recebidos, o resultado se inverte: apenas cerca de 48% dos eleitores votaram pela independência. Conclusão: é preciso refletir. Se os independentistas que reúnem os catalães de direita e esquerda obtivessem a maioria absoluta, tanto em votos quanto em cadeiras, o processo previsto por Arturo Mas, líder dos independentistas e atual presidente do Parlamento catalão, poderia começar: no prazo de 18 meses, a Catalunha conquistaria a independência. Hoje, essa suave ruptura está excluída. O caminho para a independência não será "um longo rio tranquilo". Será uma batalha selvagem entre Arturo Mas, que quer a secessão catalã, e os homens de Madri, que farão de tudo para manter Barcelona e sua região na nação espanhola - e não permitirão que o tecido da Espanha se rasgue. Os homens de Madri têm seus trunfos: por um lado, a Constituição, a lei; por outro lado, deixaram bem claros todos os obstáculos jurídicos que impedirão uma secessão, levando em conta os resultados diferenciados da votação de domingo. Outro argumento é que, mesmo que a Catalunha seja, de longe, de muito longe, a região mais rica, de desempenho mais brilhante de toda a Espanha, sua separação teria um preço exorbitante. E há outra ameaça: a Europa. Se os catalães obtivessem a independência, exigiriam a permanência na União Europeia, na zona do euro e no espaço Schengen. Mas a UE fingiria não ouvir. Bruxelas já avisou: a partir da proclamação de sua independência, a Catalunha estaria na mesma hora fora da União Europeia. Por quê? Simplesmente porque, não sendo uma nação, a Catalunha não é signatária dos tratados europeus. Nenhuma capital dos 28 membros da UE mantém relações de Estado com esse pedaço da Europa. A posição de Bruxelas poderá parecer paradoxal. De fato, uma Catalunha independente seria uma excelente recruta para a União Europeia em razão de sua riqueza, do seu elevado patamar tecnológico, de sua energia e do seu prestígio. Entretanto, o que Bruxelas teme, é que uma eventual secessão da Catalunha encoraje outras regiões a seguir seu mau exemplo: Escócia, Flandres, o norte da Itália. /TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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