Há quatro anos, participei da cobertura da Olimpíada de Londres. Hoje, bombardeada por perguntas sobre a possibilidade de um atentado durante as competições, penso no que mudou desde 2012. Londres havia sido palco de uma série de atentados sete anos antes, em julho de 2005, e um forte esquema de segurança foi montado para os Jogos, mas não havia o clima de paranoia de agora. A possibilidade de um ataque era vista como remota. O que mudou desde então?
Maracanã recebe Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos do Rio-2016
1 / 26Maracanã recebe Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos do Rio-2016
Cerimônia de Abertura Rio-2016
A delegação da Grécia, como em outras edições olímpicas, abriu o desfile dos atletas no Maracanã. Foto: Storyan Nenov/Reuters
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Maracanã é o palco da Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Tema da cerimônia é a sustentabilidade do planeta. Show conta comnomes da... Foto: Fabio Motta/EstadãoMais
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Contagem regressiva da Cerimônia de Abertura foi realizada por dançarinos com elementos de papel laminado que se transformava em tambores Foto: Fabrizio Bensch/Reuters
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Símbolo da paz em verde, representando a sustentabilidade, foi projetado durante primeira queima de fogos da abertura Foto: Juan Mabromata/AFP
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Após a contagem regressiva, fogos de artifício foram soltos. A palavra "Rio" foi projetada três vezes Foto: Fabrice Coffrini/AFP
Cerimônia de Abertura Rio-2016
O cantor Paulinho da Viola, que entoou o Hino Nacional Brasileiro. Foto: Sergey Ilnitsky/EFE
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Ocas são formadas pelos índios representados na Cerimônia Foto: Orlando Barra/EFE
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Chegada dos europeus ao Brasil também foi retratada na Cerimônia Foto: Issei Kato/Reuters
Jogos Olímpicos Rio-2016
Chegada dos africanos ao Brasil também foi um dos momentos retratados na abertura da Olimpíada Foto: Doug Mills/The New York Times
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Após índios, europeus e africanos, imigração asiática no Brasil é retratada Foto: Mike Blake/Reuters
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Ao som do instrumental de "Construção", de Chico Buarque, bailarinos representam a urbanização com a construção do 14-bis Foto: Ruben Sprich/Reuters
Cerimônia de Abertura Rio-2016
14-bis, avião de Santos Dumont, foi construído e voou durante a Cerimônia de Abertura Foto: Adrees Latif/Reuters
Cerimônia de Abertura Rio-2016
A modelo Gisele Bündchen, quedesfilouao som de "Garota de Ipanema" Foto: Sergey Ilnitsky/EFE
Cerimônia de Abertura Rio-2016
A cantora Elza Soares Foto: Reprodução/TV Globo
Cerimônia de Abertura Rio-2016
As cantoras Karol Conka e MC Soffia Foto: Reprodução/TV Globo
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Os cantores Zeca Pagodinho e Marcelo D2 Foto: Jae C. Hong/AP
Cerimônia de Abertura Rio-2016
A apresentadora e atriz Regina Casé Foto: Reprodução/TV Globo
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Yane Marques, atleta do pentatlo moderno, comanda a delegação brasileira, a última a entrar no Maracanã. Foto: Matt Slocum/AP
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), durante sessão... Foto: Orestis Panagiotou/EFEMais
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Presidente em exercício, Michel Temer abriu oficialmente os Jogos Olímpicos do Rio. Durante sua fala, vaias e aplausos foram ouvidos. Foto: Reprodução
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Caetano Veloso, Anitta e Gilberto Gil cantam "Isto Aqui, o que é?", de Ary Barroso, na parte final da Cerimônia de Abertura. Foto: Issei Kato/Reuters
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro se apresentam durante abertura. Foto: Morry Garsh/AFP
ctv-xwf-guga
O tenista Gustabo Kuerten chegou ao Maracanã com a chama olímpica. Foto: Gabriel Bouys/AFP
Cerimônia de Abertura Rio-2016
O maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze em Atenas-2004, acendeu a pira olímpica na Cerimônia de Abertura. Foto: Markus Schreiber/AP
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Pira olímpica foi projetada pelo americano Anthony Howe, especialista em objetos cinéticos. Foto: Lucy Nicholson/Reuters
Cerimônia de Abertura Rio-2016
Jorge Alberto de Oliveira Gomes, menino que mora e treina no Morro da Mangueira, acende pira olímpica que fica em frente à Igreja da Candelária, no ce... Foto: Marcos Brindicci/ReutersMais
PUBLICIDADE
Há quatro anos, a guerra civil na Síria era ainda recente. Damasco tinha vivido apenas um episódio de violência – um atentado isolado que deixou 44 mortos, em dezembro de 2011 – e o restante do país continuava em paz. Os confrontos concentravam-se em Homs e os refugiados eram algo como 10 mil sírios (hoje são mais de 4 milhões e somam-se a 7 milhões de deslocados internos). A Síria acabara de formar um conselho nacional de oposição. E 2012 começara com um plano de paz desenhado pelo enviado da ONU, Kofi Annan, endossado pelo Conselho de Segurança, com apoio de China e Rússia, antigos aliados do regime de Bashar Assad. A guerra civil era vista como uma oportunidade de derrubar a ditadura de quatro décadas, no rastro da Primavera Árabe.
Há quatro anos, em julho de 2012, a Líbia acabara de eleger pelo voto popular um novo Congresso, após a morte de Muamar Kadafi, e se preparava para redigir uma nova Constituição. Havia grupos rebeldes descontentes com o ritmo das mudanças e o governo de transição lutava para controlar milícias locais. Mas havia ainda esperança de que a Líbia caminhava para se tornar uma democracia.
Há quatro anos, o Egito acabara de realizar as primeiras eleições presidenciais realmente livres de sua história. Os militares anunciaram o fim do estado de emergência, em prática desde o assassinato de Anwar Sadat, em 1981. O ex-ditador Hosni Mubarak havia sido preso e condenado à pena perpétua pela morte de manifestantes na Praça Tahir. Mohamed Morsi, líder da Irmandade Muçulmana, vencera as eleições presidenciais no segundo turno com 51,7% dos votos e, embora uma parcela da população estivesse insatisfeita com o resultado, o direito ao voto livre era visto como uma grande conquista.
A Turquia vivia a promessa de se tornar um gigante econômico, com crescimento de 9,2% e 8,8%, em 2010 e 2011, respectivamente. O país, que negociava a entrada na UE, lançara uma “agenda positiva” em que prometia aumentar a cooperação multilateral, e parecia que o governo estava disposto a avançar em termos de liberdade de expressão e de imprensa, direitos humanos e nas relações com Chipre. O bloco europeu elogiara “o total respeito dos padrões democráticos e às leis” nas eleições legislativas, quando o Partido da Justiça e Desenvolvimento, do atual presidente Recep Tayyip Erdogan, perdera a maioria dos assentos.
Publicidade
Há quatro anos, as tropas americanas haviam acabado de se retirar do Iraque. Osama bin Laden estava fora do jogo, capturado e morto em uma operação secreta americana em Abbottabad, no Paquistão, o que levaria ao fim da guerra no Afeganistão. Acreditava-se que a Al-Qaeda estivesse liquidada. Ninguém, fora dos domínios da Síria e Iraque, havia ouvido falar em um Estado Islâmico.
Na Antiguidade, os Jogos Olímpicos previam a suspensão das guerras no período de competições, para garantir a chegada dos atletas à cidade grega de Olímpia. A trégua olímpica tornou-se uma tradição e, desde 1992, quando o Comitê Olímpico Internacional pediu ajuda à ONU para garantir a participação de atletas da Iugoslávia nos Jogos de Barcelona, o apelo pelo fim dos conflitos faz parte da agenda da Assembleia-Geral.
A Olimpíada de Londres foi a primeira com adesão de 100% dos países-membros da ONU para o cessar-fogo, que deveria perdurar até sete dias depois do fim das competições. Que seja assim no Rio – e perdure por mais tempo. Se foi possível que o mundo mudasse tanto nos últimos quatro anos, é possível mudar o mundo nos próximos quatro. Quem sabe, para melhor.