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O que Trump fará na economia?

Na campanha, ele prometeu romper acordos comerciais, fechar fronteiras a imigrantes e investir dinheiro público em obras de infraestrutura

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Por Helio Gurovitz
Atualização:

Uma incógnita cerca o governo Donald Trump: qual será, afinal, sua política econômica? Na campanha, ele prometeu romper acordos comerciais, fechar fronteiras a imigrantes e investir dinheiro público em obras de infraestrutura para gerar empregos em regiões industriais degradadas. Também lançou um programa com isenções fiscais que custariam US$ 6,2 trilhões em dez anos, de acordo com uma análise do Tax Policy Center (TPC). O TPC estima alta de US$ 7 trilhões na dívida pública em dez anos, caso o plano de Trump seja seguido à risca. Um estudo da Moody’s Analytics avalia que, mesmo que seja alterado no Congresso, o impacto econômico causado pelos novos investimentos será insuficiente para compensar a alta na dívida. No melhor dos cenários, o crescimento do PIB seria de 1,7% ao ano no período – ante 2,1% nas condições atuais. Ou os republicanos que dominam o Congresso (reconhecidos como conservadores fiscais) detêm os planos neokeynesianos de Trump – ou então, rapidamente, os americanos conhecerão as consequências de adotar uma “nova matriz econômica”.

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“Deploráveis” buscam espaço no governo Outra dúvida é o que Trump fará com os aliados incômodos – os tais “deploráveis” – que ajudaram a elegê-lo. Neonazistas, supremacistas brancos e representantes da “alt-right”, a direita racista da internet, já reivindicam seu espaço no novo governo. Até agora, têm sido ignorados.

A aliança instável de Trump e Putin Não há garantia de que melhorará a relação entre Rússia e Estados Unidos. Apesar dos acenos mútuos entre Trump e Putin na campanha, há apreensão no ar. A visão de Trump sobre Síria, Otan e Ucrânia enfrentará o choque de realidade no Departamento de Estado. Poderá até haver algum alívio às sanções contra a Rússia, mas é difícil Putin obter de alguém como Trump tudo o que quer.

 As razões para a alta no populismo O historiador Niall Ferguson aponta cinco ingredientes para o sucesso de Trump e outros populistas: 1) imigração (13% dos que hoje vivem nos EUA nasceram fora do país; em 1970, eram 5%); 2) desigualdade (20% da renda está concentrada nos mais ricos; em 1970, eram 8%); 3) percepção de corrupção (só 9% confiam no Congresso); 4) uma crise financeira histórica; e 5) um demagogo.

Obamacare foi decisivo para Trump O aumento médio de 25% na mensalidade dos planos de saúde, resultado das dificuldades do Obamacare para implantar competição entre as seguradoras, foi decisivo para os eleitores de Trump. Quase metade deles diz que a nova lei foi “longe demais”. Nesse grupo, Trump derrotou Hillary Clinton por 70 pontos porcentuais, segundo pesquisa de boca de urna da Edison Media.

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As razões de uma muçulmana trumpista Muçulmana, 51 anos, mãe solteira e eleitora de Trump, a jornalista Asra Nomani (foto) justificou assim seu voto no Washington Post: “Apoio as posições democratas sobre aborto, casamento gay e mudanças climáticas. Mas vejo a América rural e americanos comuns, como eu, lutando para pagar as contas após oito anos de Obama. Não tenho medo de ser muçulmana na América de Trump. O que mais me preocupa é a influência que ditaduras teocráticas, incluindo Catar e Arábia Saudita, teriam na de Hillary”.

O lamento multicultural de Zadie Smith A escritora Zadie Smith – cujo novo romance, Swing Time, narra em primeira pessoa a amizade entre duas londrinas filhas de imigrantes – escreveu na New York Review of Books um lamento pessoal depois do plebiscito do Brexit. Filha de jamaicana e defensora do multiculturalismo, ela constata, na prática, o fracasso do projeto de integração de imigrantes, que continuam faxineiros, babás, garçons e motoristas. “Cercas são erguidas por toda parte em Londres. Em volta de escolas, de bairros, de vidas”, diz ela.