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Obama e a estratégia 'bata na toupeira'

Ações militares pontuais do presidente não são destinadas a pôr fim a guerras e são facilmente suportáveis pelos EUA

Por Fareed Zakaria
Atualização:

Virou consenso que Barack Obama fracassou nos esforços de tirar os Estados Unidos dos conflitos no Oriente Médio. Tendo prometido pôr fim a essas guerras, o que ele fez foi aumentar, no ano passado, as intervenções americanas no Iraque, Síria e outros países. A retirada de tropas do Afeganistão é feita a conta-gotas.

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Quando Obama chegou à Casa Branca, havia 180 mil soldados americanos combatendo em duas guerras, no Iraque e no Afeganistão. O objetivo dessas guerras era botar ordem política nos dois países – na verdade, criar democracias liberais que funcionassem.

A política militar americana sob Obama tem sido diferente – mais limitada no alcance e modesta nos objetivos. Os Estados Unidos estão ativamente engajados nos esforços para derrotar grupos terroristas, impedir que ganhem terreno e trabalhar com aliados locais para expulsar militantes. Mas essas políticas envolvem um pequeno número de forças especiais e instrutores, poder aéreo e drones.

Pode-se concluir que Obama chegou a essa política de intervenção leve por meio de tentativa e erro. Em seu primeiro mandato, ele assinalou que “a maré da guerra estava baixando” e ele sem dúvida esperava ter menos atividade militar no último ano da presidência. Mas o caos político no Oriente Médio e a ascensão do Estado Islâmico o forçaram a adotar uma estratégia para a região: atacar grupos terroristas sem ampliar essa missão para a reconstrução de países.

Mas a história está cheia de exemplos de intervenções mal escolhidas, em apoio a regimes renegados, com consequências inesperadas e assustadoras escaladas de violência que produziram instabilidade ainda maior e enfraqueceram a superpotência, diminuindo sua capacidade de atuar em pontos estratégicos do sistema global. Hoje, por exemplo, atolados em outra grande guerra no Oriente Médio, os EUA ficam com menos meios de ajudar seus aliados na Ásia a deter o expansionismo chinês no Mar do Sul da China – o que pode ameaçar a paz na região econômica mais dinâmica do mundo.

Assim, o desafio é selecionar cuidadosamente as intervenções, encontrar aliados decentes e assegurar que os esforços americanos sejam criteriosamente definidos e limitados ao suficiente para ajudar atores locais sem sucumbir às constantes pressões para um envolvimento cada vez maior. Sobretudo, é preciso ter em mente que esses são desafios em andamento, de não fácil solução. Essa abordagem vai desapontar tanto intervencionistas ardentes quanto anti-intervencionistas, mas reflete a realidade de ser a maior potência do mundo.

Um corolário importante é reconhecer que essas não são guerras pela sobrevivência nacional, não podendo, portanto, ser feitas com a retórica e moral que caracterizam tais lutas pela existência. Não podemos torturar e prender usando analogias com a 2ª Guerra Mundial.

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Essa estratégia funciona? Ela vem sendo comparada ao jogo “Whac-A-Mole” (“bata na toupeira”) – que seria continuar batendo no adversário sem nunca resolver o problema. É verdade que não resolve, mas resolver, de fato, envolveria criar um sistema político efetivo e inclusivo em lugares como a Síria, que fosse visto como legítimo por todos os membros da sociedade – tarefa quase impossível para um país estrangeiro. Melhor é concentrar as energias americanas em derrotar os grupos mais perigosos, o que daria aos regimes locais a chance de assumir o controle de seus países.

São ações militares pontuais, não destinadas a pôr fim a guerras, e facilmente suportáveis pelos Estados Unidos. Podem funcionar. A estratégia do “bata na toupeira” não é nada engraçada para a toupeira. Basta perguntar ao Estado Islâmico, que vê seu território encolher, seu califado ruir e seu dinheiro secar. Tais políticas podem não resolver todos os problemas do Oriente Médio – novos grupos e novos problemas vão surgir. Mas os Estados Unidos estariam prontos para bater também nesses novos. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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