Campanha de presidente peruano usou caixa 2 da Odebrecht, diz delator

Ex-executivo da empreiteira no Peru afirma que dinheiro foi repassado para diversos partidos por meio de terceiros; políticos ligados ao fujimorismo também estão envolvidos no escândalo

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Por Fernanda Simas
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O ex-executivo da Odebrecht no Peru Jorge Barata afirmou nesta quarta-feira, 28, em depoimento na sede da Procuradoria-Geral da República em São Paulo que a empresa brasileira financiou, por meio de caixa dois, a campanha de cinco políticos peruanos, entre eles o presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski (PPK). 

Presidente Pedro Pablo Kuczynski, eleito em junho de 2016, renunciou antes de sofrer impeachment por elo com caso Odebrecht Foto: Jorge Silva/Pool photo via AP

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Segundo fontes da Procuradoria peruana, Barata detalhou nesta quarta-feira a entrega de US$ 300 mil para a campanha de PPK em 2011 (campanha em que foi derrotado, portanto), US$ 1,2 milhão para a de Keiko Fujimori em 2011, US$ 600 mil para a de Alejandro Toledo em 2011 e US$ 200 mil para a de Alan García em 2006. Na terça-feira, o delator falou da entrega de US$ 3 milhões para a campanha de Ollanta Humala em 2011. 

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O advogado de Barata, Carlos Kauffmann, afirmou ao Estado que o cliente deu todos os detalhes do que sabia e vai apresentar provas. “Tudo o que tiver de demonstrativo e for solicitado, ele vai entregar. Agora, precisamos ver o que realmente existe, porque são questões em que dificilmente se deixa registro. Por isso o depoimento é muito importante.”

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Kuczynski nega as acusações e nega ter recebido até mesmo financiamento legal da empresa. “Nunca recebi uma doação do senhor Barata. Não recebi nenhum financiamento da fonte em questão para as minhas campanhas presidenciais”, escreveu no Twitter. Ele afirmou que em 2011 não contava com um partido e sim uma aliança política. “Como candidato eu não manuseava ou controlava a tesouraria da aliança.”

Barata disse que o dinheiro não era entregue diretamente aos candidatos. No caso envolvendo PPK, por exemplo, a soma de US$ 300 mil foi entregue a Susana de la Puente, embaixadora do Peru em Londres.

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Segundo o analista político Enrique Castillo, se for comprovado o recebimento do dinheiro por Susana, a situação de Kuczynski, já acusado de outros casos de corrupção, fica mais delicada. “A pessoa mencionada por Barata é a de mais confiança de PPK, isso coloca em questão a nomeação dela e soma mais uma acusação que a oposição tem contra PPK.”

O advogado Carlos Caro, especialista em lavagem de dinheiro, explica que o caso pode não chegar à esfera criminal porque a doação de dinheiro a partidos políticos no país é punida com multas, mas o futuro político de PPK estará em risco se for provado que ele mentiu. “Se a declaração for verdadeira e ficar provado que PPK sabia disso, o Congresso poderia tentar mais uma vez um processo de vacância presidencial, como ocorreu em dezembro.”

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 Para o cientista político Francisco Belaunde, a reconfiguração das forças políticas peruanas após PPK ter sobrevivido à votação de destituição torna improvável um retorno da pressão por sua saída do cargo. Outro complicador é o envolvimento de Keiko Fujimori nas denúncias.

“As novas denúncias envolvem tanto quem apoia a saída de PPK quanto quem é contra. Além disso, a bancada de Keiko perdeu tamanho e hoje conta com menos deputados – cerca de 60 (depois da ruptura com seu irmão, Kenji)”, disse. “PPK tem se aproximado dos partidos que tentaram derrubá-lo, oferecendo ministérios. Mas as novas denúncias podem ter um efeito em sua popularidade, que é baixa até mesmo para os padrões históricos peruanos.”

A Odebrecht informou, em nota, que colabora com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. “(A Odebrecht) Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência com as autoridades do Brasil, EUA, Suíça, República Dominicana, Equador, Panamá e Guatemala, e está comprometida a combater e a não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas.” / COLABOROU LUIZ RAATZ

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