ONU já articula governo pós-Taleban

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Por Agencia Estado
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A Organização das Nações Unidas (ONU) começa a traçar um plano para administrar o Afeganistão. A Agência Estado teve acesso a documentos da ONU que indicam que, uma vez destruído o regime do Taleban, um governo provisório afegão seria formado e atuaria em conjunto com um representante das Nações Unidas pelo período de um ano. O temor da comunidade internacional é que, com a queda do Taleban, os diferentes grupos dentro do Afeganistão, entre eles a Aliança do Norte, iniciem um novo conflito pelo poder. "Não há qualquer sinal de que, apesar de todos lutarem contra o Taleban, os diferentes grupos tenham as mesmas idéias sobre um futuro governo", afirmou um assessor legal da ONU em Genebra à AE. Por isso, o novo governo patrocinado pela ONU seria apoiado por uma força militar internacional e teria representantes de 12 tribos do Afeganistão. A idéia é que, durante um ano, as Nações Unidas preparem a sociedade afegã para um regime democrático. Uma eleição nacional recriaria a assembléia tradicional do Afeganistão, conhecida como Loya Jirga, e a ONU e as forças internacionais deixariam o país. O projeto é parecido com a experiência da ONU no Camboja, em 1991. Diferentes grupos, entre eles o Khmer Vermelho, lutavam pelo controle do país, e a solução encontrada pela ONU foi o envio de mais de 20 mil soldados e administradores para garantir a paz no país. Dois anos mais tarde, a organização promoveu eleições e a situação foi controlada. O projeto, porém, consumiu quase US$ 3 bilhões. O ex-secretário-geral das Nações Unidas Boutros Boutros Ghali afirma em seu livro "Unvanquished" que a experiência da organização do país do sudeste asiático foi uma das grandes vitórias da ONU na década de 90. O problema, porém, é que desta vez a quantidade de países que estariam dispostos a mandar soldados para uma força de paz seria reduzida. Além disso, alguns grupos dentro do Afeganistão já deixaram claro que não aceitarão que tropas internacionais ocupem o país. Para deixar a situação ainda mais complexa, o governo do Paquistão quer manter sua influência sobre o próximo governo que seria formado em Cabul. Outra peça-chave na formação de um governo pós-Taleban é o Irã, que, de um lado apoia uma presença da ONU, mas não aceita os ataques dos Estados Unidos ao Afeganistão. O plano da ONU está sendo costurado pela Iniciativa de Genebra, grupo de diplomatas dos Estados Unidos, Alemanha e Irã que, desde 1999, tentam estabelecer contato com grupos políticos afegãos que foram expulsos do país pelo Taleban. A Iniciativa de Genebra é comandada pelo representante da ONU para o Afeganistão, Lakhdar Brahimi, que passou os últimos dias em negociação com os governos da Ásia Central. "Estamos falando da criação de um governo, com toda sua administração. Não esperamos que seja uma tarefa fácil", completou o assessor da ONU. Leia o especial

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