ONU questiona plano da Europa para frear o fluxo de imigração

Para entidade, foco não pode ser apenas atacar traficantes; 30 mil pessoas podem morrer ao tentar cruzar o Mediterrâneo em 2015

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Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que o plano anunciado pela Europa para frear as mortes de imigrantes pelo Mar Mediterrâneo precisa ser ampliado e o foco não pode ser apenas o de atacar traficantes que organizam as travessias, como defenderam líderes do bloco europeu nos últimos dias. Hoje, um a cada 18 pessoas que tenta cruzar o mar não sobrevive à viagem. 

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Em entrevista coletiva em Genebra, o responsável pela Divisão de Proteção do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Volker Turk, apontou que a tragédia no fim de semana que matou mais de 800 pessoas foi um "sinal de alerta" para o mundo. 

Mas ele deixou claro que o plano europeu, anunciado nesta segunda-feira, 20, após uma reunião de emergência entre ministros, não é suficiente. O plano de dez pontos prevê ações militares para combater traficantes, o reforço limitado de uma operação de resgate e apenas poucos lugares para refugiados em projetos dentro da Europa.

Um imigrante sobrevivente dos recentes naufrágios recebe atendimento médico da Cruz Vermelha no Porto de Catania, na Sicília, Itália Foto: Alessandro Di Meo/EFE

Para a ONU, o foco do plano precisa ser redefinido para dar maior atenção aos imigrantes. "Damos boas vindas à iniciativa. Mas a proteção de pessoas e de asilos precisa ser uma prioridade", alertou Turk. "Diante das crises que existem às portas da Europa, a realidade é que o fluxo de pessoas não vai desaparecer", alertou."A liderança europeia precisa dar uma resposta a isso."

A ONU admite que o tráfico é um problema. Mas alerta que não será combatendo os grupos criminosos que organizam as travessias que vai acabar com o fluxo. "Os fatores que puxam essas pessoas a fazer a travessia são maiores", alertou o representante da ONU. 

Na quinta-feira, 16, líderes europeus vão se reunir para tentar definir uma estratégia para lidar com o fenômeno. Nesta terça-feira, 21, a ONU fez um apelo para que a cúpula de uma atenção adequada aos imigrantes. "Medidas apropriadas precisam ser tomadas para proteger as pessoas", disse Turk.

Asilo. Um dos aspectos mais criticados pela ONU é o fato de que poucos lugares foram anunciados pela Europa para reassentar refugiados. No total, o bloco indicou que vai aceitar 5 mil pessoas. "Precisamos de mais lugares", admitiu Turk.

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Segundo ele, cerca de 40% dos tripulantes dos barcos que fazem a travessia são de pessoas que precisam de proteção, como sírios, refugiados da Somália ou Eritreia. "Precisamos garantir que existam canais para que essas pessoas sejam identificadas e protegidas", disse.

No total, a ONU considera que o barco que afundou no fim de semana continha 850 pessoas, incluindo 350 imigrantes da Eritreia, Síria, Gâmbia, Etiópia e Somália. 

"Apenas 28 sobreviveram e consideramos que o número de fatalidades é superior a 800, o que faz dele o pior acidente ja registrado", indicou Adrian Edwards, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados.

No total, o número de mortos no ano soma 1,7 mil pessoas e abril passou a ser o mês mais mortal já registrado, com 1,3 mil fatalidades. 

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Previsão. Em todo ano de 2014, 3,4 mil pessoas morreram na mesma travessia. "Podemos passar essa marca em questão de semanas", alertou a ONU. 

Se o atual ritmo de aumento de mortes entre imigrantes no Mar Mediterrâneo continuar como nos primeiros três meses do ano, mais de 30 mil pessoas poderão morrer em 2015 tentando cruzar o mar em direção à Europa. O alerta é da Organização Internacional de Migrações (OIM), que fez um apelo para que a Europa crie mecanismos para resgatar essas pessoas.

"O número de mortes registradas até agora já é mais de dez vezes o que ocorreu no mesmo período de 2014. Se essa tendência continuar, ao final do ano teremos 30 mil vítimas", alertou Joel Millman, porta-voz da OIM. Entre 2000 e 2014, 22 mil pessoas morreram na travessia. 

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No total, a ONU apontou que 36 mil imigrantes cruzaram o mar desde o início do ano. Em 2014, foram 220 mil pessoas cruzando o Mediterrâneo e 3,5 mil mortes. 

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