Em algumas cidades da França, os prefeitos têm abolido pratos alternativos à carne de porco em cantinas das escolas públicas de ensino infantil e básico, que atendem crianças de 2 a 10 anos. A medida é tomada em nome da laicidade do Estado e da necessidade de manter hábitos franceses, mas provocou discordância entre parte da população, que acredita que pode haver um estímulo à segregação e discriminação, especialmente no contexto posterior aos ataques terroristas realizados em Paris pelo Estado Islâmico.
Desde 1984, uma opção é oferecida aos estudantes que escolhem, no início do ano letivo, não consumir a carne suína – a maioria judeus e muçulmanos – por motivos religiosos. Em Chalon-sur-Saône, 340 km ao sudeste de Paris, o prefeito Gilles Platret proibiu a refeição alternativa nas escolas. A medida atinge 30 instituições e 3.884 alunos. A Liga de Defesa Judicial dos Muçulmanos entrou com uma ação na Justiça contra a decisão, mas perdeu na primeira instância.
Platret é filiado ao recém-criado partido Os Republicanos, cujo líder é o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy. O prefeito afirma que a mudança não têm razões financeiras, somente de laicidade. “Foi tomada com base nesse princípio que existe desde 1905. O Estado é livre da religião. Penso que não podemos levar em conta preceitos religiosos”, disse ele ao Estado. “A única coisa com a qual temos de nos preocupar é se atendem aos requisitos de saúde e nutrição.”
Discriminação. A segunda opção em dias de carne suína também foi extinta em Chilly-Mazarin, no subúrbio de Paris, próxima ao Aeroporto de Orly. A cidade tem 10 escolas primárias e a regra afeta cerca de 450 crianças. “Religião é uma coisa privada, não pública”, argumentou o prefeito Jean-Paul Beneytou.
O Ministério da Educação da França não tem jurisdição sob as cantinas de escolas. A escolha das refeições fica a cargo das prefeituras, mas o ministério informou ao Estado que preza pela laicidade, “um princípio fundamental para a França com relação às diferentes religiões”.
“O primeiro lugar em que as crianças são discriminadas é no colégio. A ação é uma maneira de os prefeitos dizerem que os imigrantes não são bem-vindos naquelas cidades”, disse o vice-presidente da União dos Estudantes Judeus da França (UEJF), Noam Meghira.