Oposição venezuelana apela à Unasul contra manobras chavistas

Deputado Julio Borges, integrante do bloco que comanda o Legislativo e se opõe ao chavismo, pede mediação de chanceleres 

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Por Ricardo Galhardo
Atualização:
Uma vista geral da Assembleia Nacional da Venezuela no início da primeira sessão da nova legislatura, agora controlada pela oposição ao chavismo Foto: EFE/Miguel Gutiérrez

CARACAS - O deputado Julio Borges, líder da bancada majoritária de oposição na Assembleia Nacional (AN) venezuelana, disse ontem ao ‘Estado’ que espera ações por parte do governo brasileiro para mediar a crise política da Venezuela por meio da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).  Borges defendeu que o Brasil, junto com Equador e Colômbia, reative o “trio de chanceleres” que, com mandato da Unasul, ajudou a arrefecer os ânimos durante a onda de manifestações que deixou dezenas de mortos no país em 2014. Segundo Borges, a oposição tem dialogado com o governo brasileiro por meio dos últimos dois ministros de Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo e Mauro Vieira, atual chanceler.  “Temos contato com a embaixada e com os dois últimos chanceleres. O Brasil é um dos três países que prestam um apoio dentro da Unasul, junto com Colômbia e Equador. Aproveito a oportunidade para pedir que se reative o trio chanceleres e que eles possam de novo acompanhar esse processo para construir diálogo, uma conversação na Venezuela. É muito útil que a chancelaria brasileira saiba que sua função não terminou, que o mandato que tem da Unasul segue vigente para que venha à Venezuela e ajude nesse processo”, disse Borges à reportagem ontem. O deputado, integrante do partido Primeiro Justiça, do candidato derrotado à presidência Henrique Capriles, elogiou a posição do governo Dilma Rousseff em relação às eleições parlamentares de 6 de dezembro, quando a oposição ganhou a maioria das cadeiras da AN. “Os problemas da Venezuela são tão graves que até países que foram aliados tradicionalmente dos governos de (Hugo) Chávez e (Nicolás) Maduro sabem que existem limites.” Em entrevista ao jornal argentino Clarín, publicada ontem, o ministro Vieira disse que a saída para a crise da Venezuela é mesmo pela Unasul. “É preciso deixar claro que não respondemos somente ao governo venezuelano mas também à oposição. Justamente porque nosso objetivo é servir de ponte entre ambos. Também podemos ser convocados pela oposição.”  Também ontem, o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, disse, por meio de uma rede social, que a “solução pacifica entre Assembleia venezuelana e o Tribunal Supremo de Justiça demonstra que o caminho da democracia é melhor para resolver conflitos institucionais”. Na semana passada, a chanceler venezuelana, Delcy Rodriguez, convocou todo o corpo diplomático credenciado em Caracas para pedir aos países que não se “imiscuíssem” nos problemas internos do país. O governo brasileiro interpretou o pedido como um recado à Argentina e Costa Rica, que manifestaram recentemente posições críticas ao governo chavista.  O deputado Julio Borges criticou a fala da chanceler. “Nossa chanceler disse que eles não se intrometam nos problemas daqui, mas a defesa dos direitos humanos e dos cuidados democráticos não tem fronteiras.” Ontem, a Assembleia venezuelana aprovou uma lei que obriga o governo a seguir todos tratados internacionais referentes ao direitos humanos. É o primeiro passo para aprovação de uma lei de anistia aos 79 oposicionistas considerados presos políticos detidos desde 2013.

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