A Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão opositora da Venezuela, usou ontem os meios de comunicação do país para convocar protestos "pacíficos" para amanhã, às 20 horas, contra o sistema de monitoramento biométrico que o governo de Nicolás Maduro pretende implementar no país no fim de novembro.
Mas desta vez - diferentemente do que ocorreu em fevereiro, durante as violentas manifestações contra o chavismo - o partido Primero Justicia (PJ) juntou-se à convocatória para as mobilizações de rua.
Em rede nacional, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, declarou que "o captador de impressões digitais é um sistema liberador (...) e será progressivo". Ele destacou que o programa é "voluntário" e o superintendente de Preços Justos ouviu de "todos" os donos de supermercados do país que os empresários estão de acordo com o novo sistema.
No início do ano, o partido Voluntad Popular (VP) - do opositor Leopoldo López, que está preso acusado de incitar a violência nos protestos antigoverno - e o movimento Vente Venezuela, de María Corina Machado, comandaram o movimento denominado de "A Saída", que exigiu, por meio de manifestações de rua, a renúncia de Maduro e a mudança no modelo econômico do país. Confrontos ocorridos durante as manifestações deixaram 43 mortos.
O PJ, porém, liderado pelo governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, ficou de fora dos protestos, defendendo uma transição democrática na Venezuela. Em entrevista ao
Estado
, o deputado Alfonso Marquina, dirigente do partido, declarou que o fato de sua legenda estar agora convocando manifestações contra a decisão do governo de monitorar o consumo de alimentos e itens básicos por meio do registro de impressões digitais dos venezuelanos não representa uma mudança de política. "O Primero Justicia nunca acompanhou os protestos violentos, mas sempre defendeu o direito constitucional aos protestos pacíficos. Não houve mudança de política. Defendemos manifestações desde que sejam constitucionais e pacíficas - isso é um direito", declarou Marquina.
O deputado afirmou que o sistema de monitoramento do comércio por meio de impressões digitais dos consumidores "não vai resolver o desabastecimento nem a inflação", comparando a futura medida, como seus colegas da oposição ao chavismo, à caderneta de racionamento cubana - pela qual o governo de Raúl Castro fornece alimentos e itens básicos com preços subsidiados aos habitantes da ilha socialista. "Temos é de aumentar a produção (da indústria venezuelana)."
'Humilhação'.
"É lamentável que o governo acuse todos os venezuelanos de contrabando. Há altos funcionários do governo Maduro e membros das Forças Armadas envolvidos nesse crime. Não é o povo que tem de pagar, quem tem de pagar são os estelionatários, os contrabandistas e os corruptos do governo", disse Marquina, afirmando considerar uma "humilhação" para os venezuelanos ter de registrar cada compra de alimentos ou itens básicos com suas digitais. "Não se deve responder à violência do governo com violência. Além de protestos pacíficos, podemos não aceitar usar os captadores de impressões digitais. Quando o povo se une, nenhum governo pode lhe impor nada."
De acordo com uma pesquisa da consultoria Datanálisis divulgada ontem pela imprensa venezuelana, 80% consideram negativa a situação do país em razão da atual crise e 63% avaliam de forma negativa a gestão de Maduro. Em evento de seu partido, o presidente afirmou que não mudará suas políticas em razão de "números chantagistas". "Que eu tenha caído ou subido. Não vivo de pesquisas", afirmou.
/ COM AFP