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Os erros de Theresa May no Brexit

Como o tempo corre contra o Reino Unido, ela deveria ter esperado ao menos o resultado da eleição deste ano na França e na Alemanha

Por Helio Gurovitz
Atualização:

A premiê britânica, Theresa May, começou mal as negociações do Brexit. Cometeu pelo menos três erros de estratégia. Primeiro: enviou cedo demais a carta que deu início à contagem regressiva de dois anos para o acordo de saída da União Europeia (UE). Como o tempo corre contra o Reino Unido, ela deveria ter esperado ao menos o resultado da eleição deste ano na França e na Alemanha, para saber com quem lidará na negociação. Até lá, a UE ficará parada olhando o cronômetro. 

Segundo erro: para agradar alas irredutíveis na questão da imigração, manifestou logo de cara sua intenção pelo Brexit versão “hard”. Isso significa que o Reino Unido já abriu mão de fazer parte do mercado comum e da união aduaneira, para poder controlar o fluxo nas fronteiras. Teria sido mais sensato fazer essa exigência na mesa de negociação, em troca de uma concessão talvez menos draconiana. Agora, May terá menos de dois anos para negociar, do zero, um acordo de livre-comércio. O prazo já é inviável em si - e a UE nem quer falar no assunto antes de resolver a situação dos expatriados, as dívidas do Reino Unido com o bloco e as regras para a fronteira irlandesa. 

Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, discursa no Parlamento britânico Foto: PA via AP

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Terceiro erro: na carta, May fez uma ameaça velada ao citar o risco aos sistemas comuns de segurança. Nem mencionou a questão mais essencial para a economia britânica: o futuro do mercado financeiro. Deveria ter chamado a atenção para um de seus maiores trunfos, a dependência europeia da City londrina. Com 17% do PIB da UE, Londres concentra 21% dos ativos bancários, 64% dos fundos de equity, 72% dos derivativos e 85% dos fundos de hedge.

A saída para salvar a City Em caso de Brexit “hard”, a perda de receitas da City em serviços exportados para a UE é avaliada em até  £ 20 bilhões. O motivo é o fim do “passaporte” que permite a qualquer banco operar de Londres para todo o bloco. Uma alternativa chamada “equivalência de país terceiro” permitiria à City manter, em tese, seu status. O custo: respeitar as normas burocráticas e jurídicas de Bruxelas, que os partidários do Brexit abominam. O risco: se quiser, a UE pode oferecer essa alternativa a qualquer centro financeiro - até ao maior, Nova York.

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