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Os longos tentáculos do EI

É preciso saber como a diplomacia não aproveitou a presença em Paris, na conferência sobre o clima, de dezenas de dirigentes mundiais, centenas de ministros e milhares de conselheiros para buscar, rapidamente, entre três discursos e nove coquetéis, uma solução para o pesadelo do mundo: o Estado Islâmico, instalado no norte do Iraque e da Síria.

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Nenhum resultado. Embora exista uma unanimidade (quase) contra o EI e suas carnificinas, em compensação, nenhuma estratégia comum foi obtida entre os diferentes Estados inimigos do grupo. Os EUA, que detestam o Estado Islâmico, fazem de tudo para não atacar o grupo com forças terrestres. Além disso, para Obama o EI não é o único inimigo. E ele estabelece como condição a saída do atual presidente, Bashar Assad.

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A Rússia faz uma análise contrária: também não aprecia o EI, mas quer manter Assad a qualquer preço no seu trono em Damasco. A França é uma incógnita. Durante longo tempo, o país caminhou lado a lado com os EUA. A prioridade, dizia o presidente francês, é a saída do “açougueiro” Assad. Mas, depois dos atentados do dia 13, em Paris, o Quai d’Orsay cambaleia. Sua prioridade agora é a eliminação do EI. E quanto a Assad? Bem, ele continua sendo detestado, mas no momento o “inimigo principal” é o EI.

O problema da França é que seus diplomatas são muito bem formados e, portanto, flexíveis. Anteriormente, o país aderiu plenamente aos EUA. Ontem, se aproximava de Putin e hoje se afasta dele. Esperemos que Hollande tenha, enfim, refletido e seja encontrado um equilíbrio, de um lado e outro.

E o EI? A organização jihadista parece um pouco enfraquecida em razão dos ataques aéreos de EUA, da França, e talvez amanhã, da Grã-Bretanha. O EI sofre porque suas receitas petrolíferas vêm caindo, em razão dos bombardeios e da queda dos preços mundiais do petróleo. Mas o grupo continua poderoso. Sai cada vez mais dos seus refúgios na Síria e no Iraque. E está perto de colocar sua pata ensanguentada em um outro território, a Líbia, país à deriva desde que a Otan matou estupidamente, em outubro de 2011, o ditador Muamar Kadafi.

A proeza da Otan teve um efeito imediato: anarquia irremediável. A Líbia possui hoje dois governos, um em Trípoli, antiga capital, e outro em Beida. O EI, que adora a anarquia nos países que cobiça, expediu para a Líbia milícias que capturaram uma terceira cidade, Sirte. Essa cidade, que possuía 70 mil habitantes, hoje está vazia. Restam somente 10 mil. Todos fugiram do terror jihadista. Hoje, a cidade está nas mãos dos 2 mil combatentes do EI.

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Sirte é somente o centro de uma metástase bem mais vasta. Os jihadistas já controlam uma longa faixa de costa de 200 quilômetros, que penetra no deserto e possui um porto, um aeroporto e uma central elétrica. Os bandos de assassinos são ativos: em 27 de janeiro foi atacado um grande hotel em Tripoli: nove mortos. Em 15 de fevereiro, assassinato de 20 cooptas (cristãos) do Egito perto de Sirte. Em março, quatro campos de petróleo da francesa Total foram saqueados. Em 20 de fevereiro, explosão de dois carros em al-Qaba: 30 mortos.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, declarou que “é fundamental que seja dada prioridade à Líbia, que corre o risco de se tornar o próximo problema urgente”. A Líbia está a 750 quilômetros da costa italiana. E está a 550 quilômetros da ilha de Malta, que faz parte da União Europeia. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

 GILLES LAPOUGE É CORRESPONDENTE EM PARIS