GAZA - Ao menos 16 palestinos morreram e cerca de 2 mil ficaram feridos em confrontos com soldados israelenses na fronteira de 62 quilômetros entre a Faixa de Gaza e Israel nesta sexta-feira, 30, durante o protesto chamado Grande Marcha do Retorno, apoiada pelo grupo islamista Hamas, e em comemoração ao Dia da Terra. Os israelenses dizem que dispararam após o lançamento de pedras e coquetéis molotov por manifestantes ligados ao Hamas.
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A versão dos palestinos é diferente. De acordo com o Ministério da Saúde em Gaza, o agricultor Omar Samur, de 27 anos, foi a primeira vítima. Ele foi morto por disparos de artilharia de Israel no início da manhã, antes mesmo do início da manifestação, quando trabalhava na lavoura. Um companheiro dele ficou ferido. O Exército de Israel disse que dois “suspeitos” se aproximaram da barreira e atiraram contra os soldados, então tanques israelenses dispararam em sua direção.
Os outros 15 palestinos, todos manifestantes, morreram em confrontos com o Exército israelense em diferentes áreas da fronteira. Um deles foi baleado na barriga em Jabaliya, ao norte de Gaza, e dois foram atingidos na cabeça em Rafah, ao sul da região. O Crescente Vermelho identificou mais de 350 manifestantes feridos por tiros de soldados israelenses na fronteira.
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O Exército de Israel disse que seguiu o protocolo e respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e munição real contra as milhares de pessoas que tentavam danificar a barreira em seis pontos da fronteira. Israel acusou militantes de usarem a manifestação para cometer ataques. Uma das preocupações dos israelenses é que o protesto seja uma tentativa, espontânea ou não, de forçar a cerca da fronteira. No começo da semana, Israel havia ordenado o fechamento total da fronteira por uma semana na Páscoa judaica.
Os protestos reivindicam o “direito ao retorno” dos milhares de palestinos que foram expulsos de suas terras ou fugiram da guerra que começou após a criação de Israel, em 1948. O Dia da Terra homenageia seis árabes-israelenses que morreram em 1976 durante manifestações contra o confisco de terras por Israel.
A grande manifestação, prevista para durar ao menos seis dias, também é uma demonstração do desespero dos moradores da Faixa de Gaza em razão do cerco de mais de uma década e da deterioração das condições de vida.
Cenário
A estudante de história Asmaa al-Katari disse que estava participando da marcha, apesar dos riscos, “pois a vida é tão difícil em Gaza que a população não tem mais nada a perder”.
Organizada oficialmente pela sociedade civil, a Marcha do Retorno é apoiada pelo Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007. O grupo travou contra Israel três guerras no enclave palestino desde 2008. Desde 2014, os dois lados tentam manter um cessar-fogo.
O Exército de Israel, que usou um drone para lançar gás lacrimogêneo, disse que os palestinos “estavam protestando violentamente na Faixa de Gaza. Eles atearam fogo em pneus e lançaram bombas e pedras nos agentes de segurança”. As tropas “responderam com meios de dispersão e disparos contra os principais instigadores”. Segundo nota do Exército de Israel, “a organização terrorista Hamas coloca em perigo a vida das pessoas de Gaza e as usa para camuflar suas atividades terroristas”.
Enquanto o Estado de Israel celebrará em maio seu 70.º aniversário, os palestinos ainda aguardam a criação de seu Estado. O direito ao retorno dos refugiados continua sendo uma exigência fundamental dos palestinos e, para os israelenses, um grande obstáculo à paz.
O status de Jerusalém também é um ponto importante de tensão, principalmente desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu reconhecer a cidade como a capital de Israel e transferir a embaixada americana para lá. A decisão enfureceu os palestinos, que querem fazer de Jerusalém Oriental, anexada por Israel, a capital do Estado a que aspiram.
Reações. Vários países da região condenaram a violenta repressão de Israel contra uma manifestação na Faixa de Gaza que reuniu entre 17 mil pessoas, segundo o Exército de Israel, e até 40 mil, segundo observadores locais. Centenas de crianças estavam com os pais na manifestação. Os organizadores montaram grandes tendas a 700 metros da fronteira e prometeram comida e água grátis para manter a presença de centenas de pessoas até o dia 15, quando os palestinos lembram a “nakba” (catástrofe), que marca o início da desapropriação e o exílio de palestinos após a criação do Estado de Israel, em 1948.
O Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião de emergência para ontem mesmo, a pedido do Kuwait, para debater sobre o incidente. A ONU já havia alertado que a Faixa de Gaza está à beira do colapso econômico e de serviços em razão do bloqueio que já dura mais de uma década. O desemprego entre os 2 mil moradores do enclave é de 50%. A porcentagem é maior entre os jovens.
O governo do Egito, que também mantém bloqueada sua fronteira com a Faixa de Gaza, condenou o uso excessivo de força e pediu a ambas as partes que mantenham moderação. A Jordânia também condenou o “uso de força excessiva contra o povo palestino desarmado” e advertiu que isso pode alimentar “o extremismo e a violência na região”. / AFP, EFE, REUTERS, AP e W.POST