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Papas destacaram viés religioso, mas o político foi consequência

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José Maria Mayrink

O Vaticano sempre olhou a Terra Santa, que engloba a Palestina e Israel, sob o viés religioso, como provam os discursos dos quatro papas que visitaram a região - Paulo VI em 1994, João Paulo II em 2000, Bento XVI em 2009 e Francisco em 2012. O aspecto político, no entanto, foi uma consequência inevitável, toda vez que um chefe da Igreja Católica fez alguma menção a guerras e conflitos. Israel não deixou de reagir nas ocasiões em que, em defesa da paz, os papas - todos os quatro - sugeriram a autonomia do povo palestino como condição para um futuro de estável harmonia.

Os líderes da Igreja Católica incluíram em seu itinerário Jerusalém, Belém e Nazaré, além da Jordânia, apesar das dificuldades locais para traçar um programa o mais imparcial possível. Paulo VI não se referiu uma única vez ao Estado de Israel, criado em 1948, preferindo anunciar sua viagem, em março de 1964, como peregrinação "à pátria de Nosso Senhor Jesus Cristo". João Paulo II, que estabeleceu relações diplomáticas entre o Vaticano e Israel, em dezembro de 1993, declarou, em março de 2000, que pisava com profunda emoção "na Terra onde Deus escolheu morar". Era uma citação bíblica que abrangia toda a região.

Bento XVI rezou junto ao Muro das Lamentações e na Basílica da Natividade, em Belém, assim como na cidade de Nazaré, dividindo sua agenda entre israelenses e palestinos. Os judeus se comoveram com sua visita, pois o papa, um alemão, ao visitar o Museu do Holocausto pediu perdão pelos crimes cometidos contra os judeus na Europa. Teve também caráter religioso e ecumênico a viagem que o papa Francisco fez em 2012 à Terra Santa, onde abraçou o patriarca ortodoxo Bartolomeu, de Constantinopla, repetindo o gesto de Paulo VI de 1964, quando ele se encontrou com o patriarca Atenágoras.

Mesmo que o Vaticano tenha definido o acordo sobre a vida e as atividades dos católicos na Palestina, prestes a ser assinado como um passo a mais na busca de entendimento que deve contribuir para estabelecer a paz no Oriente Médio, Israel reage com irritação. A consequência, imagina com razão o governo israelense, será o reconhecimento na prática da existência do Estado Palestino. Não será uma novidade, pois, como observou o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, a Igreja Católica apoiou a decisão da Organização das Nações Unidas de admitir, em novembro de 2012, o Estado da Palestina como Estado observador - mesmo status do Estado do Vaticano entre os países da ONU.

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