Para retomar fôlego, Theresa May reforma ministério no Reino Unido

Contestada dentro e fora de seu governo, primeira-ministra britânica se prepara para segunda fase das negociações do Brexit

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Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

Pressionada pelas tensões internas no Partido Conservador (Tories), a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, anunciou na noite desta segunda-feira uma reforma ministerial para acomodar opositores e partidários do Brexit, o rompimento entre Londres e Bruxelas. Às vésperas da abertura da segunda fase das negociações com a União Europeia, a premiê manteve o núcleo duro de seu governo, mas buscou substitutos para três cargos vagos, dentre os quais dois por recentes escândalos sexuais.

Premiê britânica, Theresa May, reforçou defesa de período de transição de 2 anos após Brexit Foto: AFP PHOTO / POOL / Jeff J Mitchell

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A mudança no gabinete veio em meio à tempestade política enfrentada por Theresa May, que pena a recuperar a popularidade depois das eleições de 2017, as quais venceu, mas perdendo a maioria Tory, o que obrigou o partido a buscar um governo de coalizão. Com a reforma ministerial, a conservadora busca um novo fôlego antes da abertura das negociações com Bruxelas sobre dois dos assuntos mais sensíveis do Brexit: a futura relação comercial entre o Reino Unido e a UE e o período de transição do divórcio.

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Em meio às sensibilidades do partido, Theresa May manteve os quatro principais nomes de seu governo, que traduzem o equilíbrio entre “brexiters" (favoráveis ao Brexit) e “remainers" (contrários à separação). Assim David Davis, ministro do Brexit, foi mantido em seu posto, da mesma forma que o ministro das Relações Anteriores, Boris Johnson. Amber Rudd, ministra do Interior, e Philip Hammond, ministro das Finanças, também permanecerão em suas funções. Davis, Johnson e Hammond são inclusive cogitados para assumirem a chefia de governo em caso de uma eventual queda da premiê.

Além deles, um quinto nome se soma ao núcleo duro do governo: David Lidington, que assume como ministro do Gabinete Oficial, sem função específica determinada. Na prática ele deve se tornar o braço direito de Theresa May, em especial preparando o cenário para um hipotético rompimento sem acordo de livre-comércio com a UE. No lugar de Lidington, David Gauke assume o Ministério da Justiça.

Para o sensível posto de ministro encarregado da Irlanda do Norte, até aqui ocupado James Brokenshire, que enfrenta problemas de saúde, foi nomeada Karen Bradley, ex-ministra da Cultura. Por fim, Jeremy Hunt, muito contestado como ministro da Saúde em razão dos problemas recentes causados pela superlotação do sistema público, foi confirmado no cargo após várias horas de discussão com a premiê.

A dança das cadeiras em Londres tornou-se inevitável depois que o vice-primeiro-ministro, Damian Green, foi levado a pedir demissão em dezembro. Em seu computador no Parlamento foram encontradas imagens pornográficas, em um segundo escândalo sexual envolvendo altos dirigentes britânicos. Antes dele, Michael Fallon, ministro da Defesa, já havia sido obrigado a se demitir em novembro em razão de um escândalo de assédio sexual, do qual era o protagonista. Uma terceira ministra, Priti Patel, secretária de Estado de Desenvolvimento Internacional, demitiu-se também em novembro em razão de seus laços com Israel, que haviam configurado uma “diplomacia paralela”.

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Realizada para passar uma nova imagem do governo, a reforma acabou minada pela desorganização, em especial quando Chris Grayling foi anunciado como ministro, antes que o anúncio fosse deletado. Para Ian Dunt, autor de “Brexit: What the Hell Happens Now?” ("Brexit: o que diabos acontecerá agora?”, na tradução livre), a mudança no gabinete reflete a própria gestão da premiê. “Qualquer que seja a situação”, entende Dunt, “ela a transformará em uma bagunça”.

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