Parlamentares prometem barrar queda do embargo

Fim das sanções enfrenta oposição da maioria dos republicanos, que controlarão as duas Casas do Legislativo a partir de janeiro

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Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:
Para o senador Rand Paul, o embargo não surtiu o efeito desejado e deve ser suspenso, pois'provavelmente pune mais a população do que o regime' Foto: Rigelio V Solis/AP

Parlamentares do Partido Republicano americano disseram que farão de tudo para tentar impedir a aprovação recursos e a nomeação de um embaixador para a representação diplomática que Barack Obama pretende instalar em Havana, em um indício das dificuldades que o presidente terá em convencer a oposição a apoiar um passo ainda maior - a suspensão do embargo econômico a Cuba.

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Ao anunciar na terça-feira a mudança de políticas americanas em relação à ilha, Obama disse que buscaria estabelecer um diálogo "honesto e sério" com o Congresso sobre o levantamento das sanções em vigor desde 1960. Apesar de haver vozes favoráveis aos anúncios entre os republicanos, a maioria dos líderes do partido rejeita o debate proposto por Obama.

Mas há dissidentes importantes dentro da legenda, entre os quais o potencial candidato à presidência e senador Rand Paul, de Kentucky. Em entrevista a uma rádio ontem, ele afirmou que o embargo não surtiu o efeito desejado e deve ser suspenso. "Se o objetivo era mudar o regime, certamente não parece que está funcionando e provavelmente ele pune mais a população do que o regime, porque o regime pode culpar o embargo por dificuldades."

A posição contrasta com a de outros pré-candidatos republicanos à presidência. Jeb Bush defende a ampliação do embargo, em vez de seu abandono. Entre as vozes mais contundentes contra a nova política de Obama está a do senador Marco Rubio, da Flórida, que também aspira chegar à Casa Branca.

Futuro presidente para o Hemisfério Ocidental do Comitê de Relações Exteriores do Senado, ele prometeu "empreender todos os esforços para bloquear essa tentativa perigosa e desesperada do presidente de polir o seu legado às expensas do povo cubano." Segundo ele, o presidente terá dificuldades em obter aprovação do Congresso do orçamento para a embaixada em Havana e para a aprovação no Senado de seu futuro titular.

Os republicanos John Boehner, presidente da Câmara, e Mitch McConnell, futuro presidente do Senado, também criticaram as medidas. "As relações com o regime Castro não devem ser revisitadas, muito menos normalizadas, até que o povo cubano tenha liberdade - e nem um segundo antes disso", declarou Boehner.

Presidente do Programa Américas do Center for Strategic and International Studies, Carl Meacham considera pouco provável a suspensão do embargo no curto prazo. Em sua opinião, o cenário é complicado pela eleição presidencial de 2016.

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Meacham afirmou que mesmo entre os democratas há congressistas que se opõem à nova política para Cuba. O mais proeminente deles é o senador Robert Menendez, filho de imigrantes cubanos. Para ele, o levantamento do embargo seria "uma recompensa que um regime totalitário não merece".

Diretor do projeto Cuba XXI, da Universidade Georgetown, Eusebio Mujal-León também vê baixa probabilidade de o Congresso aprovar o fim do embargo antes da eleição. Para ele, as medidas anunciadas são mais benéficas a Havana do que a Washington. "Os cubanos não cederam e não tiveram que oferecer nenhum gesto de mudança de seu sistema político."

Na opinião de Meacham, a mais importante decisão anunciada pelo presidente é a retirada de Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo. O processo deve ser concluído em seis meses.

"A reavaliação do status de Cuba terá um enorme impacto nos negócios, nas transações bancárias e no crédito", avaliou. Segundo ele, a legislação americana impede operações financeiras com países incluídos na lista dos que apoiam o terrorismo. Cuba integra a relação desde 1982, em razão do apoio dado a integrantes da guerrilha colombiana M-19.

A saída da lista seria o primeiro passo para a suspensão do embargo. Enquanto ele estiver em vigor, haverá limites para as ações que o presidente pode adotar por decreto.

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