Partido tenta barrar vitória de Trump

Parte do establishment republicano pretende influenciar escolha de delegados e impedir candidatura do magnata durante convenção de julho

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Por WASHINGTON
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O republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton venceram de maneira avassaladora as primárias de Nova York, na semana passada, e ficaram mais perto de se tornarem rivais na eleição presidencial de novembro. A disputa seria certa não fosse um detalhe: a cúpula do Partido Republicano rejeita o magnata e declarou uma verdadeira cruzada nos bastidores para impedir sua candidatura.

As razões da rejeição são muitas. Trump não seria conservador o bastante, deu declarações em favor do direito de aborto e defendeu que os americanos mais ricos paguem mais impostos – até mesmo ele. Em alguns aspectos, o magnata é tudo o que os republicanos tradicionais detestam. Contra ele, pesa ainda uma rejeição de 65% dos eleitores, além do ódio de minorias e partes importantes do eleitorado: negros, latinos e mulheres.

  Foto: JONATHAN ERNST | REUTERS

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Trump, no entanto, tem arrastado multidões para seus comícios e derrotado todos os seus adversários nas urnas, deixando a cúpula do partido em uma posição difícil. Alguns analistas apontam que o fenômeno é uma resposta dos eleitores republicanos à passividade do establishment em Washington e um sinal de insatisfação com o avanço de políticas democratas em dois mandatos de Barack Obama.

Seja como for, o magnata deixou para trás nove pré-candidatos nas primárias republicanas e restam apenas dois rivais em quem a cúpula do partido pode apostar: o senador Ted Cruz e o governador de Ohio, John Kasich. O problema é que, após as prévias de Nova York, restam apenas 26% dos delegados em disputa e só Trump pode alcançar a maioria de 1.237 que garante a vaga do partido.

O bilionário tem 845 delegados. Em segundo vem Cruz, com 559. Em último está Kasich, com 148. No entanto, a matemática é difícil até para Trump, que precisa conquistar 392 dos 620 delegados que ainda restam – 63% do total. É possível, mas improvável.

Segundo as regras do partido, se ninguém obtiver a marca de 1.237 delegados, a convenção nacional, marcada para o dia 18 de julho em Cleveland, será uma “contested convention”, termo usado para designar uma convenção na qual não há vencedores em uma primeira votação.

A confusão começa aí porque, para o segundo turno, a maioria dos delegados, até então obrigados a votar no candidato que venceu as prévias em seu Estado ou distrito eleitoral, está liberada para escolher qualquer um – até mesmo quem nem sequer participou das primárias. Se não houver vencedor em uma segunda votação, haverá uma terceira. Depois uma quarta, até que alguém obtenha a maioria.

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A expressão “contested conventio” dá arrepios na direção dos partidos, mas causa euforia entre jornalistas, analistas e fanáticos pela política americana. A razão é simples: a última convenção disputada nesses moldes ocorreu em 1952 e foi vencida pelo republicano Dwight Eisenhower – que depois foi eleito presidente. Ou seja, um cenário que a atual geração viu apenas em episódios das séries West Wing e House of Cards.

No entanto, o maior problema da cúpula republicana, ao tentar derrubar Trump durante a convenção, é rachar o partido, legitimar a escolha de um candidato que não teve voto ou que ficou em segundo lugar. “A direção do partido está em pânico”, disse esta semana Morton Blackwell, presidente do comitê republicano de Virgínia Ocidental.

A possibilidade de uma disputa acirrada na convenção também abriria a temporada de acordos de bastidores, a portas fechadas, que poderiam afetar a transparência do processo e a imagem do partido. Nada disso, porém, sensibilizou a cúpula republicana, que sorrateiramente, com base em brechas no estatuto partidário, vem alocando delegados para Cruz em distritos vencidos por Trump – ainda que obrigados a votar no magnata, no primeiro turno, eles poderiam passar para o lado de Cruz, em uma segunda votação.

O presidente do Comitê Nacional Republicano, Reince Priebus, nega que haja preferência por alguém e tenta conter os ânimos. “Temos de unir o partido”, disse ele em entrevista à CNN. Mas Trump, Cruz e Kasich nem prestaram atenção.

“É claro que haverá uma convenção aberta”, disse Cruz. “No fim, eu terei a maioria porque o partido está do meu lado”, afirmou Kasich. Trump, que seria o mais prejudicado com a disputa, declarou em março que temia uma “baderna” caso a decisão não fosse em primeiro turno.