Peru define hoje quem disputa 2º turno contra Keiko Fujimori, dizem pesquisas

Segundo sondagens, filha do ex-presidente Alberto Fujimori deve terminar à frente, mas não evitará nova votação; Pedro Pablo Kuczynski, economista de centro, e Verónika Mendoza, deputada esquerdista, brigam pelo direito de enfrentá-la no dia 5 de junho

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Por LIMA
Atualização:

Keiko Fujimori vencerá hoje o primeiro turno da eleição peruana graças ao sobrenome. Seu pai, “El Chino” Alberto Fujimori, governou entre 1990 e 2000 e foi condenado por crimes contra humanidade. Na prisão há 11 anos, conserva a fama de corrupto que acabou com o terrorismo, um tema ao qual nenhum eleitor é indiferente. O rival de Keiko na disputa definitiva, em 5 de junho, é a maior incógnita da votação.

 O tamanho do triunfo de Keiko indicará se o elo familiar desta vez não será um teto. Em 2011, ela foi derrotada por Ollanta Humala porque o antifujimorismo se uniu. A rejeição a ela continua alta (28%, segundo o Vox Populi), ao contrário de seus mais prováveis adversários. O economista de centro-direita Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PKK, tem 1,8% de objeção. O nome ascendente da esquerda, Verónika Mendoza, tem 3,5% de rechaço. Ambos estão tecnicamente empatados com aproximadamente 15%, segundos as últimas projeções.

Fernandina Taype, que teve o marido executado pelo Sendero em 1984 e ainda tem medo de voltar à cidade do massacre, eleitora indecisa. Vive na favela San Fernando, em Lima Foto: RODRIGO CAVALHEIRO/ESTADÃO

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Keiko tem mais que o dobro, um fenômeno que se explica, em parte, pela guerra contra o Sendero Luminoso encabeçada por seu pai. No imaginário fujimorista, seu líder levou obras aos mais pobres, acelerou a economia e, principalmente, aniquilou a guerrilha. 

Fernandina Taype, de 63 anos, escapou em 1984 do massacre de Soras, a 800 quilômetros de Lima, quando o Sendero executou mais de cem camponeses. O marido dela liderava a defesa da cidade e foi executado. No ano seguinte, abandonou sua chácara para viver com os cinco filhos em Lima. 

“Até hoje tenho medo de voltar. A morte dele acabou com minha vida, que era plantar”, diz Fernandina, chorando no casebre de compensado de madeira e teto de zinco furado na favela de San Fernando. “Nenhum candidato me convenceu a votar nele, nem Keiko.” A região natal de Fernandina foi onde o conflito cobrou muito mais vítimas e o fujimorismo ganhou tons de religião. 

O eletricista Hugo Herrera Morales, de 42 anos, deixou a localidade de Salcabamba, outro miserável foco do conflito nos Andes, aos 12 anos. Lembra da guerrilha nas montanhas, o que o fez emigrar para Santa Clara, bairro de classe média baixa a 11 quilômetros de Lima. Ele aponta três grandes méritos em Fujimori. “Ele derrotou o Sendero, fechou um Congresso improdutivo (refere-se ao golpe de 1992) e acertou a economia. O que não quer dizer que eu vá votar na filha”, explica.

Herrera é um sinal de que a transferência de votos tem exceções e a eleição pode ter surpresas. O antigo fã de Fujimori votará em Verónika, mas não pode espalhar. “Mesmo os professores, que a apoiam em massa, não contam para os vizinhos. Há muita pressão dos fujimoristas contra ela, até um vídeo dizendo que ela é terrorista e comunista”, reclama.

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O radicalismo atribuído à psicóloga de 35 anos leva outra parcela do antifujimorismo a escolher a moderação de Kuczynski, associada a seus 77 anos. “Ele já foi ministro de Economia de Alejandro Toledo, tem experiência. E tem mais chance de derrotar Keiko”, diz a costureira Ana Toledo. Ela teria razões para votar em Keiko se levasse em consideração o atentado no qual o Sendero matou 25 pessoas, em 1992, na Rua Tarata, no bairro de Miraflores. Ana ainda mora a uma quadra dali. “Lembro direitinho da explosão. A onda expansiva destruiu janelas e portas, foi um terror.”

Sua prima, Susana Márquez, de 57 anos, não do nome da pessoa que terá seu voto, só sabe que “é a filha de Fujimori”. “O Sendero matou minha irmã por dar comida aos militares. Acho que Fujimori fez o que tinha de fazer. Voto nela por isso.”

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