Petroleiro russo cruza o Ártico sem ajuda de quebra-gelo

Ele completou a jornada da Noruega à Coreia do Sul em 19 dias, um prazo 30% menor do que o gasto na rota regular

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Por Russel Goldman
Atualização:

Um petroleiro russo construído para atravessar as congeladas águas do Ártico completou sua jornada entre a Europa e a Ásia em um tempo recorde este mês, em um presságio sobre o futuro da navegação com o aquecimento global derretendo as camadas de gelo sobre os mares. 

O Christophe de Margerie, petroleiro de 300 metros construído especialmente para essa jornada, tornou-se o primeiro navio a completar a Rota do Mar do Norte sem a ajuda de um quebra-gelo especializado em auxiliar a embarcação. 

Petroleiro russo Christophe de Margeriena rota do Mar do Norte Foto: EFE/Sovcomflot

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A jornada foi a realização de um sonho de cem anos da navegação e dos planos de uma década do presidente russo, Vladimir Putin. Seu governo tem indicado intenção de tirar vantagem política e econômica das mudanças climáticas que afetam o Ártico. “Este é um grande evento para a abertura do Ártico”, disse Putin na viagem inaugural do petroleiro este ano.

O navio, que transporta gás natural liquefeito, completou a viagem da Noruega à Coreia do Sul em 19 dias, no dia 17. O trajeto foi percorrido em um prazo 30% menor do que o gasto na rota regular, passando pelo Canal de Suez. 

Durante séculos, navegadores têm buscado pela Passagem do Norte uma rota mais curta e mais rápida entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Historicamente, o espesso gelo na região tornava a jornada impossível. No último século, navios quebra-gelo tornaram a viagem plausível, mas economicamente proibitiva, apenas possível durante o verão, quando a camada de gelo fica mais fina. 

Mas as rápidas mudanças climáticas têm alterado significativamente a região. No comunicado, a empresa Sovcomflot afirma acreditar que o navio poderia fazer sua “jornada durante todo o ano em condições difíceis de gelo”. 

O petroleiro recebeu o nome de Christophe de Margerie, chefe executivo da companhia de energia francesa Total, morto em um acidente de avião em Moscou em 2014. 

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Primeiro de uma planejada frota de 15 petroleiros similares, a embarcação tem um casco de aço reforçado exclusivo que lhe permite quebrar camadas de gelo de pouco mais de um metro. Apenas 500 navios completaram a jornada desde que a rota foi percorrida pela primeira vez, em 1906. A Sovcomflot diz esperar agora que a viagem se torne rotineira. 

Por enquanto, a rota ainda continua cara, principalmente pelos altos custos com seguro e as considerações ligadas à segurança. Um relatório do ano passado elaborado pela Copenhagen Business School concluiu que uma embarcação Trans-Ártico não seria economicamente viável antes de 2040. 

À medida que especialistas anteciparam o aumento do derretimento no Ártico, vários países têm procurado maneiras de explorar o fenômeno, instalando cabos e perfurando na busca por petróleo e gás natural, entre outros recursos. / NYT 

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