Um automóvel repleto de cilindros de gás foi encontrado no coração de Paris no último domingo. O veículo, um Peugeot 607 sem placas, foi estacionado no Cais de Montebello, ao lado Catedral de Notre-Dame, e acabou localizado pela polícia e pelos serviços antiterrorismo. Segundo as investigações preliminares, o automóvel pertencia a um homem cuja filha é suspeita de ter fugido para a Síria. Um casal de suspeitos consta dos arquivos de Ficha "S" do Ministério do Interior, como são identificados os suspeitos de radicalismo e de atividade terrorista.
O Ministério Público de Paris abriu uma investigação oficial por terrorismo, o que sugere que um novo atentado pode ter sido evitado na capital francesa. De acordo com o jornal Le Figaro, que revelou o caso, o veículo foi abandonado em uma rua situada a 200 metros da Notre-Dame, em um local fechado ao tráfego e de intenso fluxo de turistas. O automóvel foi encontrado abandonado pelo funcionário de um bar, que chamou a polícia ao vislumbrar um cilindro de gás - que estava vazio - no interior. Outros cinco cilindros, todos cheios, foram descobertos no porta-malas.
Uma equipe do esquadrão antibombas foi enviado ao local para verificar o risco de explosão, mas nenhum mecanismo detonação foi encontrado. No interior do veículo uma folha com escritos em árabe foi encontrada, mas o conteúdo não foi revelado até a noite de ontem pela polícia e pelo Ministério Público.
Na terça-feira o dono do veículo foi localizado e preso para verificações. Residente em Seine-Saint-Denis, ele era conhecido pelo proselitismo islâmico, mas não foi considerado uma ameaça pelas autoridades. Ele mesmo teria se apresentado no domingo a uma delegacia de polícia para denunciar o desaparecimento de sua filha, porque teme que ela tenha partido para a Síria, onde se juntaria ao grupo terrorista Estado Islâmico. Até a noite de ontem, a jovem continuava desaparecida.
A principal pista da polícia francesa por enquanto foi a prisão na terça-feira de um casal que viajava de carro em direção à Espanha. Um homem de 34 anos e sua mulher, de 29, estavam juntos de três crianças com idades entre 3 e 6 anos. Ela é objeto de uma Ficha "S", aberta por suspeita de radicalização terrorista em uma investigação especial da Direção Geral de Segurança Interior (DGSI), o serviço secreto interno da França. Ambos integram um movimento islamista radical e teriam sido reconhecidos como os últimos usuários do veículo encontrado no centro de Paris.
À agência Reuters, um membro da equipe de investigações do caso afirmou que uma das hipóteses da polícia é de que o carro tenha sido preparado em uma espécie de "ensaio" de um atentado. Teste ou tentativa fracassada de ataque, o caso gerou preocupação em Paris porque se enquadra em um dos riscos iminentes cogitados pelas autoridades da França.
Em maio, em depoimento na Comissão de Defesa nacional e de Forças Armadas da Assembleia Nacional, o equivalente à câmara dos deputados, Patrick Calvar, diretor-geral da DGSI, havia antecipado essa possibilidade. "Se os atentados de novembro passado foram perpetrados por kamikazes e por pessoas armadas de fuzis kalachnikov que tinham o objetivo de fazer o maior número possível de vítimas, nós corremos o risco de nos vermos confrontados a uma nova forma de ataque", advertiu, explicando: "uma campanha terrorista caracterizada pela reunião de explosivos em locais ou em pontos de encontro de multidões, uma ação que teria por objetivo criar um clima de pânico".