GULU, UGANDA - "Okello! Venha! Corte as pernas daquele homem." Okello Moses Rubangangeyo, então um recruta de 16 anos, cozinhava para os cerca de 300 rebeldes em um descampado na mata quando o comandante o chamou. Eles voltavam de Aboke, no norte de Uganda, após sequestrarem 139 meninas do colégio St. Mary para levar ao chefe: Joseph Kony, o líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês).O comandante lhe deu um pequeno machado. "Tínhamos machados grandes para cortar lenha. E os pequenos, você já os viu? As mulheres dançam com eles. Não servem para nada", disse Okello à reportagem. Foi um talento inofensivo que o levou ao comando do LRA: saber costurar. Era ele quem remendava os uniformes dos soldados e Kony passou a chamá-lo para confeccionar os vestidos de suas mulheres, mantidas em cativeiro.Com o tempo, ele se tornou braço direito de Kony. Okello tinha duas mulheres e 34 meninos-soldados sob sua tutela. "Os menores, de 14 ou 15 anos, matam aleatoriamente sem mesmo os comandantes mandarem. Não sabem distinguir o que é certo e errado", conta. Os comandantes tinham encontros semanais com Kony. "Ele conhecia a todos pelo nome", lembra Okello. "Ele me chamava de escritor porque eu era o único com alguma educação."Certa vez, Okello foi atingido por fragmentos de bomba, desmaiou por dez horas e foi deixado para trás pelos rebeldes. Em uma rara decisão, que colocava seus homens em risco, Kony ordenou que voltassem para buscá-lo. "Ele (Kony) estava preocupado. Quando disseram a ele que eu estava desaparecido, Kony deu ordens para que voltassem e procurassem por mim. Por isso, diziam que eu ressuscitei dos mortos."