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Por Iraque estável, Irã e EUA se aproximam

Departamento de Estado, porém, ressalta que discussões não envolvem cooperação militar

Por CLÁUDIA TREVISAN
Atualização:

O governo dos EUA admitiu ontem a possibilidade de colaborar com o Irã para tentar estabilizar a situação no Iraque, que corre o risco de se desintegrar diante do avanço do grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Isil, na sigla em inglês). A contenção dos radicais sunitas é um dos raros pontos de concordância da política externa de Washington e Teerã, que cortaram relações diplomáticas há mais de 30 anos.

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"Nós estamos abertos a qualquer processo construtivo que possa minimizar a violência, manter a unidade do Iraque, a integridade do país e eliminar a presença de forças terroristas externas que o estão dilacerando", declarou ontem o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em entrevista ao Yahoo. Um alto funcionário do governo americano disse que representantes dos dois países discutirão o assunto nesta semana em Viena, a lado das negociações sobre programa nuclear iraniano, no chamado P5+1.

O vice-secretário de imprensa da Casa Branca, Josh Earnest, ressaltou que as conversas sobre a situação no Iraque serão totalmente independentes das negociações sobre a questão nuclear e não deverão influenciar o seu andamento.

Washington e Teerã têm interesse em evitar a dissolução do Iraque e o domínio de parte de seu território pelos radicais sunitas.

De orientação xiita, o governo iraniano é um dos principais aliados do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, no poder desde 2006.

A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Jen Psaki, ressaltou que qualquer colaboração entre seu país e o Irã teria caráter puramente político. "Nós acreditamos que o foco deve ser encorajar os líderes do Iraque a governar de uma maneira não sectária e nossas discussões não serão sobre cooperação ou coordenação de objetivos militares", afirmou Psaki.

O presidente Barack Obama anunciou na sexta-feira que os Estados Unidos estão dispostos a dar apoio militar ao governo do Iraque na luta contra os radicais do Isil, mas ressaltou que a ação deve ser acompanhada de mudanças políticas que aumentem a representatividade da administração de Maliki, dominada por xiitas.

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"Nós gostaríamos de ver o regime iraniano e os líderes de outros países da região desempenharem um papel construtivo em encorajar a liderança política do Iraque a perseguir uma agenda diplomática inclusiva", declarou Earnest.

O governo de Teerã já indicou estar aberto à aproximação com Washington.

No domingo, Hamid Aboutalebi, um dos principais assessores do presidente Hassan Rohani, disse em sua conta no twitter que só E UA e Irã têm condições de conter a instabilidade no Iraque.

Kerry avaliou que o Iraque vive uma ameaça "existencial" e que o avanço do Isil pode comprometer a estabilidade de toda a região. Segundo ele, a eventual permanência de tropas americanas no país depois do fim da guerra, em 2011, não teria evitado a crise atual. Em sua opinião, o conflito tem origem política e reflete a inabilidade de Maliki de construir um governo que represente as diferentes facções do país.

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"Nós estamos profundamente comprometidos com o processo constitucional, mas também temos grandes dificuldades com o governo atual e sua falta de disposição de estender a mão, de ser inclusivo, de trazer pessoas para a mesa e de ser suficientemente responsável em sua abordagem pluralista de governo", afirmou.

O secretário americano disse que ataques aéreos são uma das principais opções militares dos Estados Unidos para conter o Isil e sua movimentação em "comboios" e "caminhões". Na sexta-feira, o presidente Barack Obama afirmou que qualquer ação no Iraque não envolveria o envio de tropas ao país.

A proposta de colaboração com o Irã dividiu os senadores John McCain e Lindsey Graham, dois falcões da política externa do Partido Republicano. "Os interesses e objetivos dos Estados Unidos e do Irã não estão alinhados no Iraque e uma maior intervenção iraniana só deixará a situação drasticamente pior", disse McCain, candidato derrotado por Obama em 2008.

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Graham sustentou que será inevitável cooperar com Teerã. "Os iranianos podem prover alguns ativos para assegurar que Bagdá não caia. Nós precisamos nos coordenar com os iranianos", disse o senador em entrevista à CNN.

Na opinião de McCain, o envolvimento do Irã vai acirrar o conflito sectário na região, estimular sunitas a aderirem ao Isil, aumentar a dependência do Iraque em relação ao Irã e afetar a relação dos Estados Unidos com seus principais aliados na região, onde os sunitas são maioria.

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