PUBLICIDADE

Prefeito de Buenos Aires é destituído do cargo

Em uma decisão inédita o prefeito foi destituído do cargo por "mau desempenho de suas funções"

Por Agencia Estado
Atualização:

O prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, foi destituído do cargo, nesta terça-feira, em conseqüência de um incêndio em uma casa noturna que matou 194 pessoas em 2004. O julgamento político se arrastou por três meses. O impeachment de Ibarra, por mau desempenho de suas funções, foi decidido depois que 10 dos 15 vereadores que integravam uma comissão de inquérito votaram pela destituição. Quatro membros da comissão o consideraram inocente das acusações e um se absteve. Aliado do presidente argentino, Néstor Kirchner, Ibarra se converteu em réu do julgamento político por causa de uma seqüência de falhas e omissões às quais se atribuiu o incêndio de uma discoteca de Buenos Aires que deixou o saldo de 194 mortos na noite de 30 de dezembro de 2004. Segundo a acusação, a prefeitura foi omissa e permitiu a corrupção de fiscais responsáveis por controles e inspeções de casas noturnas da capital argentina. Desde a abertura da investigação parlamentar, em novembro, Ibarra já estava suspenso de suas funções. O vice-prefeito Jorge Tellerman assume o governo da cidade - a maior da Argentina, com 3 milhões de habitantes - até o fim do atual mandato, em 2007. Kirchner preferiu manter silêncio durante o processo, numa estratégia para conter potenciais danos políticos causados pela destituição de seu aliado de centro-esquerda. Desde o início do processo contra ele, Ibarra vem qualificando a ação de um golpe institucional arquitetado pelo grupo parlamentar municipal liderado pelo milionário presidente do clube de futebol Boca Juniors, Mauricio Macri. A bancada comandada por Macri, de direita, é a maior do Legislativo da cidade. Ibarra tinha sido eleito pela coalizão de centro-esquerda Frente Grande (FG) em 1999. Em 2003, foi reeleito ao derrotar Macri. Um grupo de parentes de vítimas do incêndio, favorável à destituição de Ibarra, realizou uma vigília na frente da sede do Parlamento municipal (equivalente à câmara de vereadores) de segunda-feira de manhã até a madrugada desta terça-feira - quando a polícia isolou a área num raio de seis quarteirões. Logo após o anúncio do resultado da votação, alguns parentes das vítimas que aguardavam nas proximidades da área de isolamento, festejaram em meio a lágrimas e abraços. "Conseguimos torcer o braço deste sistema corrupto que temos", disse Santiago Vareda, um sobrevivente do incêndio. O processo contra Ibarra se desenvolveu num clima de tensão, causado por denúncias de pressões e ameaças de todas as partes. A casa de uma das integrantes da comissão de inquérito, Beatriz Baltroc - uma das que votaram pela absolvição do prefeito -, foi atacada por pichadores na noite de segunda-feira. Na semana passada, cerca de 20 mil pessoas se concentraram no centro de Buenos Aires, numa manifestação em favor de Ibarra. "Nunca antes se produziu um processo com tantas ameaças, tanto medo e tanta violência", afirmou Ibarra, antes de conhecer o resultado da votação, a jornalistas que o aguardavam na frente do Parlamento. "Todos devem estar fartos e, até certo ponto, enjoados."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.