Após sete meses de incertezas, o governo britânico anunciou ontem um plano detalhado para a saída do Reino Unido da União Europeia e confirmou que o acordo final do Brexit será submetido a votação no Parlamento. Os primeiros detalhes foram apresentados pela primeira-ministra, Theresa May.
Ela afirmou que o Brexit significará de fato a saída do mercado comum europeu, mas vai propor um acordo que substitua os atuais entendimentos.
“O que proponho não pode significar pertencer ao mercado único, que nos impediria de negociar nossos acordos comerciais”, explicou. Segundo ela, o Reino Unido não quer estar “meio dentro, meio fora” da UE. “Quero novos acordos comerciais não apenas com a UE, mas com velhos amigos e novos aliados”, disse.
A declaração foi recebida pelos demais líderes europeus com um misto de alívio – por finalmente existir um plano – e críticas diante do que parece ser uma estratégia de Londres de manter certas vantagens do bloco europeu, sem ter de assumir compromissos em termos de imigração e soberania.
A partir de março, cerca de 700 dossiês terão de ser debatidos por diplomatas de Londres e Bruxelas e o processo pode durar dois anos para definir questões como comércio, armas nucleares, imigração, investimentos, bolsas de estudos, vistos de trabalho e centenas de outras regras que, em quase meio século, foram criadas de forma conjunta.
Desde junho de 2016, os europeus cobravam uma posição clara de Londres sobre a saída ou não do Reino Unido do bloco, depois do resultado do referendo. Os mercados também reagiram de forma positiva aos esclarecimentos e a libra esterlina se fortaleceu. May também prometeu que o Reino Unido passará a ser uma “nação comerciante global”, o que foi ironizado por europeus.
Seu discurso foi interpretado como um reconhecimento por parte dos britânicos de que não poderão recuperar o controle das fronteiras e, ao mesmo tempo, manter-se no mercado comum. Nos dias que se seguiram ao referendo britânico, a chanceler alemã, Angela Merkel, deixou claro que não aceitaria uma situação em que Londres poderia ter as vantagens do bloco, sem os compromissos.
Deixar o mercado único é pré-requisito para que Londres também possa cumprir a promessa de acabar com a livre circulação de pessoas e retomar o controle fronteiriço. A primeira-ministra britânica afirmou que quer um novo acordo alfandegário com o bloco europeu e também insistiu que o sucesso da UE é do interesse de seu país.
Na Organização Mundial do Comércio (OMC) e entre diplomatas britânicos, o temor é de que, se um novo acordo comercial entre o Reino Unido e Bruxelas não estiver concluído até abril de 2019, a UE poderá passar a tratar Londres como qualquer outro parceiro, com tarifas de importação que trariam bilhões de euros em perdas.
May insistiu que não vai aceitar que Bruxelas ponha o Reino Unido em um “purgatório político permanente”. Mas negociadores europeus alertaram que, jamais em sua história, a UE conseguiu fechar acordos comerciais em dois anos.
Parlamento. Outro anúncio de May foi de que o acordo final, em 2019, será submetido a votação nas duas Câmaras do Parlamento. Em novembro, a ideia de levar o processo ao Parlamento foi considerada uma manobra para tentar enterrar o Brexit. Mas, ontem, assessores de May insistiram que o acordo final será submetido à votação de uma maneira em que dificilmente haveria como derrubar o projeto, após dois anos de negociações.