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Premiê britânica forma governo com ultradireita para iniciar o Brexit

Theresa May contará com o apoio do Partido Unionista Democrático, da Irlanda do Norte, para obter maioria no Parlamento

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Por Redação
Atualização:

LONDRES - A primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta sexta-feira que formará um novo governo para dar início à saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit), apesar de seu Partido Conservador ter perdido a maioria absoluta após uma eleição em que se multiplicaram os pedidos por sua renúncia.

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"Acabo de ver Sua Majestade, a rainha, e agora formarei um governo, um governo que possa proporcionar certezas e conduzir o Reino Unido neste momento crítico", declarou ao final de um breve encontro com a rainha Elizabeth II, a quem pediu oficialmente autorização para formar um novo Executivo.

"Este governo vai guiar nosso país nas cruciais negociações sobre o Brexit que começarão em dez dias e responderá ao desejo dos britânicos de concluir com sucesso a saída da União Europeia", afirmou May.

Premiê britânicaTheresa May Foto: EFE/Facundo Arrizabalaga

Em sua breve declaração aos jornalistas, a primeira-ministra explicou que contará com o apoio do Partido Unionista Democrático (DUP), da Irlanda do Norte. O DUP obteve 10 cadeiras que, somadas às 318 dos conservadores, alcançariam 328, a metade da Câmara dos Comuns mais dois.

Horas depois, May anunciou que seus ministros-chave, incluindo o das Finanças, Philip Hammond, o das Relações Exteriores, Boris Johnson, e o do Brexit, David Davis, permanecerão no novo Executivo.

O DUP é o maior partido da Irlanda do Norte e, no passado, foi muito criticado por seus vínculos com grupos paramilitares protestantes leais à coroa britânica - que defendem a permanência dentro do país no Reino Unido - e inimigos do Exército Republicano Irlandês (IRA), grupo que defendeu a independência e a reintegração das duas Irlandas. DUP chegou, até mesmo, a se opor ao Acordo de Belfast, que pôs fim à violência na Irlanda do Norte.

O partido, no entanto, nunca apoiou os conservadores da mesma forma que um de seus rivais na Irlanda do Norte, o Partido Unionista do Ulster. Desde 2007, o DUP divide o poder na Irlanda do Norte com o Sinn Fein, por muitos anos considerado o braço político do IRA.

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Ultraconservador, o DUP pediu em 2011 o retorno da pena de morte no Reino Unido, se opõe ao aborto e ao casamento gay e não tem uma posição clara sobre a mudança climática. O partido também diverge com os conservadores sobre várias questões, entre elas o valor das pensões.

Como concessão, o DUP deve exigir que os conservadores evitem um Brexit radical e a imposição de fronteira e postos de controle com a República da Irlanda.

Moção de confiança. Depois das negociações, May se submeterá a uma moção de confiança no Parlamento. Se não superá-la, possivelmente apresentará sua renúncia e a rainha convidará o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, para compôr o Executivo. Os trabalhistas, que conseguiram eleger 261 deputados, podem obter o apoio dos liberal-democratas e dos nacionalistas escoceses.

O revés eleitoral do Partido Conservador prolonga um ano turbulento da política britânica desde que o Reino Unido votou de forma inesperada, em junho de 2016, em favor da saída da União Europeia.

"Em suma, é uma verdadeira bagunça", declarou à France Presse Angus, um britânico de 43 anos que chegava esta manhã na estação londrina de Euston para ir ao trabalho.

Mas, acima de tudo, é um fracasso pessoal para May, que dispunha de uma maioria de 17 assentos no Parlamento e convocou eleições antecipadas na esperança de obter uma maioria mais ampla para negociar o Brexit em posição de força.

Após o resultado, Corbyn exigiu a renúncia de May: "perdeu cadeiras dos conservadores, perdeu votos, perdeu apoio e perdeu confiança. Eu diria que é o suficiente para se retirar".

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May disse que apenas os conservadores são capazes de garantir a estabilidade que o Reino Unido necessita em tempos difíceis. "O país precisa de um período de estabilidade e quaisquer que sejam os resultados, o Partido Conservador assegurará que possamos cumprir esta tarefa de garantir a estabilidade", afirmou.

No entanto, líderes do seu partido, como a ex-ministra Anna Soubry, consideraram que May deveria pensar em uma renúncia, pois "está em uma situação muito difícil." O ex-ministro das Finanças conservador George Osborne declarou "ser totalmente catastrófico para os conservadores e para Theresa May".

Libra em queda. A moeda britânica caiu imediatamente depois do anúncio das pesquisas de boca de urna na quinta-feira à noite e sua queda se acentuou nesta sexta-feira pela manhã na Europa, para depois limitar a baixa. 

Às 16 horas GMT, a libra baixava 1,5% frente ao dólar diante do fechamento do dia anterior e era trocada a 1,2732 dólares. O euro valia 87,89 pences contra 86,60 pences da véspera.

"Ao que parece vai haver uma instabilidade e para o governo britânico será difícil negociar o Brexit com uma posição firme", declarou Tony Travers, da London School of Economics.

"É um desastre para Theresa May. Sua liderança será questionada e receberá pressões para renunciar", disse o especialista em Política Ian Begg, da London School of Economics.

Antecipando as eleições de 2020, May "perdeu a aposta", avaliou Paula Surridge, da Universidade de Bristol. Comparativamente, o líder trabalhista Corbyn sai muito fortalecido melhorando os resultados de seu antecessor, Ed Miliband, em 2015.

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Outros grandes derrotados são os separatistas escoceses do SNP, que perderam 21 deputados dos 56 que tinham e veem consideravelmente debilitada sua aspiração a um segundo referendo de independência.

O líder do Partido para a Independência do Reino Unido (Ukip), Paul Nuttall, anunciou nesta sexta-feira sua renúncia ao não conseguir nenhum assento nas eleições. "Tem que começar uma nova era com um novo líder", disse, ao anunciar uma demissão que abre as portas ao retorno do polêmico Nigel Farage, um dos rostos visíveis da bem-sucedida campanha pelo Brexit.

Para o veterano conservador Ken Clarke, o referendo sobre a União Europeia abriu a Caixa de Pandora. "Nunca mais um referendo sobre nada!", exclamou na BBC. / AFP