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Premiê indiano faz visita-surpresa ao Paquistão e indica reaproximação

Pela primeira vez em 11 anos, líder da Índia vai ao Paquistão; Narendra Modi e Nawaz Sharif discutem relações bilaterais e a região da Caxemira, em reunião de duas horas tida por Nova Délhi como sinal de que retomada diplomática pode ser rápida

Atualização:
Premiê paquistanês, Nawaz Sharif (E) cuprimenta o indiano Modi em Lahore Foto: AP

Em um raro sinal de reaproximação diplomática, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, fez nesta sexta-feira, 25, uma visita-surpresa ao Paquistão - a primeira em 11 anos de um líder indiano ao rival histórico de três guerras. Modi estava no Afeganistão e combinou a visita em um rápido telefonema com o premiê paquistanês, Nawaz Sharif. Os dois se reuniram em Lahore.

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Um porta-voz do gabinete de Sharif disse que os dois líderes discutiram uma série de questões bilaterais, incluindo a disputa pela Caxemira.

Uma autoridade próxima a Modi disse que a visita foi uma decisão espontânea do primeiro-ministro que não pode ser vista como uma mudança repentina na posição indiana. “Mas, sim, é um claro sinal de que o engajamento ativo pode ser feito em ritmo rápido”, disse a fonte, que não quis ser identificada.

O último encontro entre chefes de governo dos dois países ocorreu no começo do mês na cúpula do clima de Paris, na França. Desde a independência da Grã-Bretanha em 1947, Índia e Paquistão, que possuem armas nucleares, disputam a região montanhosa da Caxemira.

Segundo a imprensa indiana, a visita coincidiu com o aniversário de Sharif e o casamento de sua neta. Os dois se reuniram por duas horas.

Modi telefonou a Sharif mais cedo para desejar-lhe feliz aniversário e perguntou se poderia fazer uma parada no Paquistão em seu caminho de volta, disse o secretário de Relações Exteriores, Aizaz Chaudhry. “O premiê disse: ‘por favor, venha, você é meu convidado, por favor, venha e tome um chá comigo’”, afirmou o chanceler.

Sharif abraçou Modi depois da chegada do indiano ao aeroporto de Lahore, no leste do Paquistão, e os dois tomaram um helicóptero para a casa do premiê na região, segundo imagens exibidas pela TV estatal.

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“Então, você finalmente veio”, disse Sharif a Modi, de acordo com uma autoridade da chancelaria paquistanesa que estava na reunião. “Sim, estou aqui”, respondeu Modi.

Ainda de acordo com Chaudry, ambos concordaram em continuar trabalhando pelo bem estar dos dois povos. “A visita foi planejada de maneira inesperada e foi um gesto de boa vontade”, disse o chanceler.

O porta-voz do partido de Modi, Tarun Vijay elogiou a decisão do premiê de visitar o Paquistão. “Foi o melhor presente de Natal para quem crê na paz”, disse.

Na Índia, a visita provocou protestos do Partido do Congresso, a principal força opositora a Modi. “Chefes de Estado não passam para dar feliz Natal ou presentes de aniversário, particularmente quando você tem um histórico complexo entre os dois países”, disse o porta-voz Anand Sharma. “Deveria ter sido organizada uma visita de Estado apropriada. Teríamos apoiado uma iniciativa assim.

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Virada. Especialistas no conflito indo-paquistanês acreditam que a visita possa representar um ponto de inflexão na relação entre os rivais históricos. “Essa visita desempenhará um papel importante para a melhora dos laços entre Índia e Paquistão”, disse o professor de Relações Internacionais Amanullah Memon, da Universidade de Preston, sediada em Islamabad.

“É um passo muito positivo. Qualquer passo para estabilizar e oferecer um recomeço às relações indo-paquistanesas é bem-vindo e precisa ser apoiado por quem crê que os dois países possuem laços comuns para superar o terrorismo e o subdesenvolvimento”, afirmou o especialista em política externa indiana Amitabh Matto.

Alguns analistas, no entanto, alertam para o risco de a visita criar um excesso de otimismo. “Foi um passo bom, porém pequeno”, disse Adil Najam Vajpayee, da Universidade de Boston. “Há o risco de querer ver mais na situação do que realmente existe e se frustrar no futuro.”

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A última visita de um primeiro-ministro indiano ao Paquistão ocorreu em 2004, quando Atal Bihari visitou o presidente Pervez Musharraf. Cinco anos antes, ele fez outra visita histórica na inauguração da linha de ônibus entre Nova Délhi e Lahore. / REUTERS, NYT e EFE

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