Presos políticos venezuelanos denunciam torturas bárbaras  

Documento coletados pela Organização dos Estados Americanos (OEA) podem ser usados em uma eventual denúncia de crimes contra a humanidade contra o regime de Maduro

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Por Jamil Chade , Correspondente e Genebra 
Atualização:

Documentos coletados pela Organização dos Estados Americanos (OEA) que servirão de base para uma eventual denúncia de crimes contra a humanidade contra o regime de Nicolás Maduro denunciam torturas bárbaras nas prisões chavistas.Segundo esses documentos, os presos teriam sido obrigados a comer minhoca e excrementos e a vestir roupas sujas defezes, além de sofrerem choques elétricos, abusos sexuais e de outros tipos, como policiais urinando sobre eles. 

Agentes da Guarda Nacional Bolivariana enfrentam manifestantes em Caracas Foto: EFE/Cristian Hernández

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Na avaliação da entidade, os casos de tortura são “sistemáticos” e o país já acumularia 440 presos políticos, o maior número desde o fim do regime militar de Marcos Pérez Jiménez entre 1952 e 1958. 

Mas são as práticas que, para a OEA, revelam a intencionalidade dos crimes. “Cem por cento das vítimas descreveram violência e força exercida por funcionários, enquanto as torturavam”, indicou. “O objetivo não era apenas cumprir ordens. Mas fazer o máximo dano corporal possível para castiga-los por estarem protestando”, explicou. 

Um dos métodos denunciado é o uso de gases tóxicos extraídos de bombas lacrimogêneas para aplicar “diretamente no rosto da vítima, tapando-o com bolsas plásticas para que o efeito seja mais contundente”. “Dez vítimas denunciaram que funcionários abriam seus olhos para colocar pó toxico”, indicou. 

Outras 15 revelaram que o produto era colocado em seus narizes, o que fazia a vítima ser obrigada a abrir a boca para respirar. Quando isso ocorria, eram “obrigados a comer excremento humano”. 

Suas roupas ainda eram submergidas em vasos sanitários com excremento e depois colocadas nos prisioneiros. 

A imagem e o uso de fezes fazem parte de diversos relatos de prisioneiros coletados pela OEA. Outro detento indicou que foi arrastado por cima de excremento e depois “banhado” com urina retirada dos vasos sanitários. Em alguns casos, as partes íntimas desses detentos foram afetadas por contaminações, com graves infecções. 

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Choques elétricos e abusos sexuais com metais e outros instrumentos também foram relatados. “Duas vítimas denunciaram que foram golpeadas com tabuas com pregos nas costas”, indicou. Outros casos ainda apontam como policiais atropelaram pessoas já presas com suas motos.

“A tortura está proibida”, lembrou a OEA. “Nenhuma emergência nacional, por mais terrível que seja, justifica recorrer à tortura. É totalmente intolerável em qualquer sociedade democrática”, completou a entidade. 

A reportagem procurou a representação da Venezuela na ONU, mas não obteve resposta. 

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