Pressionada a frear plantio e saída de drogas, Colômbia vê crescer consumo

Presidente se reelegeu usando como trunfo um pacto que prevê a saída da guerrilha do narcotráfico e a consequente queda na produção

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Por Denise Chrispim Marin
Atualização:
Quarteirão do bairro do Bronx, em Bogotá, ocupado por usuários de basuco Foto: Fernanda Vergara / Huffington Post

BOGOTÁ - Frear a produção de drogas na Colômbia é um dos principais desafios do presidente Juan Manuel Santos, reeleito no dia 15. Mas, enquanto os cultivos ilegais têm diminuído no país, o consumo de entorpecentes entre a população aumenta. O “basuco”, um tipo de crack, é a substância mais popular entre os viciados – e a mais destrutiva. Enquanto a produção de coca e derivados cai no país, o consumo de entorpecentes aumenta, afirma o Observatório de Drogas da Colômbia.

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Segundo o mais recente levantamento da ONU, entre 2011 e 2012, a produção de coca caiu 25% no país. Em 2011, o cultivo ilegal ocupava 64 mil hectares, no ano seguinte, 48 mil – e a produção de cocaína caiu de 345 para 309 toneladas. De acordo com um estudo do Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas dos Estados Unidos, a produção de cocaína caiu para 175 toneladas em 2013.

A disputa eleitoral de Santos com o opositor Óscar Iván Zuluaga, afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe, centrou-se nas negociações de paz com as guerrilhas, ligadas ao narcotráfico. As campanhas em um país pressionado pela comunidade internacional a bloquear a saída e combater a produção de drogas, porém, não tocaram no crescente consumo interno.

Dados do estudo da Universidade dos Andes, mostram que, entre 1996 e 2008, a parcela de pessoas entre 12 e 65 anos que admitem usar drogas passou de 5,1% para 8,7%.

Viciados. Ao lado de um quartel do Exército e a menos de um quilômetro do Palácio de Nariño, sede do governo da Colômbia, está a mais violenta “cracolândia” de Bogotá. Chama-se Bronx e fica na Carrera 15b, entre as Ruas 9.ª e 10.ª. Cerca de 2 mil moradores de rua viciados no basuco e membros de três gangues de tráfico de drogas e de armas se concentram no local.

A Carrera 15b forma dois ângulos de 45 graus. Os acessos são fechados com grades removíveis. Quem se aproxima logo é questionado por “seguranças” das gangues, que disputam o poder e se financiam com o tráfico de drogas, de armas e de pessoas. A cada mês, a Polícia Nacional faz uma ou duas batidas para apreender armas e drogas. Seus frequentadores espalham-se pela cidade, mas voltam. Do quartel, rapazes em serviço militar e policiais evitam sair de seu campo seguro. Mesmo armados com fuzis e pistolas, protegidos com coletes à prova de bala, temem ser atacados.

Os líderes das três gangues do Bronx estão presos desde 2013. Mas Óscar Alcantara (conhecido como “Mosco”), César González (“Homero”) e Rigoberto Árias (“Rigo”) comandam, da cadeia, o tráfico de drogas e armas.

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Giovani Moreno, de 38 anos, é empregado de uma dessas gangues. Diz ser “zelador”. Qualquer aproximação de estranhos é barrada por ele, no acesso pela Rua 10.ª. Moreno vive desde os 8 anos nas ruas. Primeiro, no Cartucho, ponto de consumo de drogas que deu lugar à Praça Terceiro Milênio em 2006 e cuja destruição aumentou a concentração no Bronx. “Aqui é como um bairro qualquer”, afirmou, acrescentando que vive em um “hotel”.

O sem-teto Shirlei de Jesús, de 38 anos, parou no Bronx depois da destruição do Cartucho. Ele é morador de rua desde que fugiu de casa, aos 8 anos. Coleta papelão, como meio de obter os 2 mil pesos (R$2,40) que um papelote de basuco vale.

Segundo a psicóloga Mírian Cantor, da Secretaria de Integração Social de Bogotá, no Bronx também há gente que não se envolve com as drogas e nem com as gangues. 

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