Procuradora liga governos de Chávez e Maduro a propinas da Odebrecht

Indiciamento de mulher e sogra de ex-ministro é um raro desafio ao governo e vinha sendo sinalizado nas últimas semanas por Ortega

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Por Redação
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CARACAS - O Ministério Público da Venezuela, chefiado pela chavista dissidente Luisa Ortega Díaz, indiciou nesta quarta-feira, 12, duas pessoas suspeitas de conexão com o esquema de corrupção da Odebrecht no país. O indiciamento é um raro desafio ao governo e vinha sendo sinalizado nas últimas semanas por Ortega, que rompeu com o presidente Nicolás Maduro em abril e pode ser destituída do cargo. 

María Baptista e Elita Zacarias são acusadas de ter ligações com o ex-ministro dos Transportes e do Planejamento Haiman El Troudi, que trabalhou nos governos de Hugo Chávez e de Maduro. O anúncio foi feito pelo MP por meio do Twitter. As duas devem depor no dia 27.

TSJ rejeitou um pedido de Luisa Ortega para que autorizasse um julgamento contra oito de seus magistrados, ao acusá-los de violar a Constituição Foto: EFE/Miguel Gutiérrez

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As duas mulheres são mulher e sogra do ex-ministro. Maria Baptista foi nomeada pelo marido em 2008 como Diretora de Relações Institucionais do Ministério do Planejamento, quando ele estava à frente da pasta, ainda no governo Chávez.  Na gestão de Maduro, foi ministro dos Transportes. Ambos os ministérios designaram obras para a Odebrecht, segundo a imprensa venezuelana. 

Em acordo de delação premiada, a construtora admitiu ter pago US$ 98 milhões em propina na Venezuela para obter contratos com o governo. No começo do ano, o MP tentou prender o chefe da Odebrecht na Venezuela, Euzenando Azevedo, mas ele aparentemente deixou o país.

Ao contrário de outros países da América Latina envolvidos com o caso Odebrecht, no qual as investigações avançaram e levaram à prisão de burocratas e políticos, como Peru e República Dominicana, na Justiça venezuelana, ligada ao chavismo, as investigações progrediam com lentidão. 

Com a ruptura de Ortega com o governo, precipitada pela decisão do Tribunal Supremo de Justiça de anular as competências do Parlamento, além da repressão a manifestantes e a convocação de uma nova Assembleia Constituinte, o cenário mudou e as investigações começaram a andar. 

Na terça-feira, Ortega declarou à Rádio Unión, crítica ao chavismo, que vários membros da administração chavista estão ligados às propinas da Odebrecht

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Segundo ela, o Ministério Público tem em seu poder contratos e provas da autorização das obras mediante propina. Muitos dos chavistas envolvidos, ainda de acordo com Ortega, receberam comissões para liberá-las. Esse dinheiro, ainda conforme o relato da procuradora, foi depositado em contas de laranjas em paraísos fiscais. 

De acordo com o diário El Nacional, ligado à oposição, Ortega disse também que teve dificuldades para obter informações relativas à Venezuela na Justiça brasileira e falou em enviar ao País um procurador para tentar colher um depoimento de Marcelo Odebrecht.

A procuradora afirmou em outra entrevista, à rádio argentina Con Vos, que se manterá no cargo “para defender a democracia” e não reconhecerá a decisão do TSJ sobre sua eventual destituição como chavista crítica do presidente Maduro.

O TSJ deveria anunciar ontem uma decisão sobre ela, acusada de mentir em afirmações contra os magistrados. Ortega rompeu com o governo em meio a uma convulsão social e política pelos protestos opositores contra Maduro. A onda de violência já deixou 93 mortos desde 1.º de abril.

Há três semanas, o chavismo equiparou os poderes da Defensoria Pública aos da Procuradoria, concedendo inclusive ao órgão ainda leal ao governo acesso a todos os casos investigados por Ortega. 

Especialistas acreditam que essa medida foi uma tentativa da cúpula chavista de descobrir se há em curso alguma investigação vinculando altos funcionários do governo ao caso Odebrecht. A facção mais irritada com Ortega dentro do governo é chefiada pelo vice-presidente Tareck El Aissami e o deputado Diosdado Cabello. /REUTERS