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Propaganda chavista já não engana ninguém

Venezuelanos rejeitam vídeos de Maduro no parquinho, no teleférico ou dirigindo alegre, para parecer ‘gente boa’

Por THE ECONOMIST
Atualização:

Em protestos quase diários, os opositores do regime autoritário venezuelano encontraram diferentes formas de manifestar sua revolta. O país vive seu período mais conturbado nos últimos três anos porque o governo tornou a vida dos venezuelanos insuportável: a escassez de alimentos e medicamentos é aguda, a taxa de homicídios é provavelmente a mais alta do mundo e a democracia foi para o beleléu.

Apesar disso, no mundo do presidente Nicolás Maduro, tudo corre às mil maravilhas. Com o caos tomando conta do país, os marqueteiros do presidente tentam humanizar sua imagem, inundando as redes sociais com vídeos que enfatizam suas origens humildes e sua sabedoria simples.

Maduro anunciou o aumento do salário mínimo em seu programa semanal na TV estatal, transmitido no domingo de um armazém da rede de mercados estatais Foto: EFE/MIRAFLORES

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Num desses vídeos, postado no Facebook, Maduro aparece num parque infantil, equilibrando-se desajeitadamente num balanço, enquanto discorre com fervor sobre a inocência da infância. Em outro, o presidente contempla a paisagem de uma Caracas que, do alto, na segurança de uma das gôndolas do teleférico da cidade, parece realmente tranquila. Às vezes, acompanhado da mulher, Maduro se põe ao volante de seu carro: é o momento de relembrar os tempos de motorista de ônibus.

O material postado nas redes sociais é um adendo ao arsenal de propaganda do chavismo, que tem como principal arma o controle estatal sobre a TV do país — utilizada nos últimos tempos para veicular à exaustão a ideia risível de que a Venezuela é vítima de uma guerra econômica. As transmissões protagonizadas pelo presidente às vezes se estendem por quatro longas horas.

Os vídeos “intimistas” (e um programa de salsa no rádio) são uma tentativa de fazer com que Maduro, mesmo sem ter o carisma de Hugo Chávez, pareça tão simpático e “gente boa” quanto seu antecessor. Os venezuelanos já não caem nessa.

É motivo de especial indignação um vídeo em que o presidente aparece jogando beisebol com Diosdado Cabello, o truculento ex-presidente da Assembleia Nacional.

“É um jogo democrático, um jogo constitucional”, escarnece Cabello, que ajudou a planejar muitas das investidas do governo contra a democracia, como a tentativa malograda de transferir os poderes do Parlamento, atualmente controlado pela oposição, para o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que faz tudo o que o governo manda. “Estamos trabalhando”, promete Maduro ao lançar a bola de volta para seu companheiro de arbitrariedades.

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Para o ensaísta Alberto Barrera Tyszka, o vídeo é prova da “decadência” do chavismo. Segundo ele, as imagens de políticos brincando à vontade, de pança cheia, são um insulto à pobreza dos venezuelanos, muitos dos quais perderam peso nos últimos dois anos. Em outro vídeo ainda, Maduro aparece dirigindo seu carro pelas ruas de um bairro pobre de Caracas.

A intenção é mostrar os moradores felizes. A certa altura, o presidente passa por um muro em que se vê a pichação: “Maduro, assassino de estudantes”. Ele não se dá conta da gafe. Os chavistas já foram bons de propaganda. Agora, nem isso conseguem fazer direito. / TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER

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