A Praça da República, no centro de Paris, foi palco de enfrentamentos entre manifestantes de esquerda e a polícia na noite de quinta-feira e na madrugada de ontem. Grupos protestavam contra um projeto de reforma do mercado de trabalho proposto pelo presidente da França, François Hollande.
Mais de 60 pessoas ficaram feridas e 213 foram presas ao fim de um dia de manifestações convocado pelos maiores sindicatos do país. Os confrontos ocorreram após a manifestação e se reproduziram em outras cidades como Rennes, Nantes, Marselha e Toulouse.
Ao longo da noite e durante a madrugada, a violência ganhou intensidade. Na capital, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo foram lançados contra os manifestantes em torno da Ponte de Austerlitz, da Praça da Nação e da Praça da República. Houve vandalismo contra bancos e outros edifícios. Ao todo, 24 policiais ficaram feridos na capital – três, com gravidade.
Em Rennes, também houve tumulto e feridos – um manifestante foi atingido no rosto por uma bala de borracha e perdeu a visão de um dos olhos.
Segundo a polícia, os manifestantes compunham um grupo de cerca de 300 black blocs, membros de movimentos de ultraesquerda, nem todos franceses – haveria também alemães e britânicos. Em um dos gritos de ordem, os manifestantes afirmavam que “todo mundo detesta a polícia”.
“Eles dispunham de técnicas para arrancar o calçamento para reunir pedras e pedaços de asfalto, estocá-lo em sacos e mochilas e a seguir atacar as forças de ordem”, afirmou o chefe de polícia de Paris, Michel Cadot.
No fim da noite, o conflito foi em torno da desmontagem à força das instalações da Nuit Debout – ou “Noite em Pé” –, um movimento da sociedade civil nascido em protesto contra a Lei El-Khomri, projeto de legislação que prevê a flexibilização do mercado de trabalho.
O evento vem ocorrendo todas as noites desde 29 de fevereiro, na Praça da República, e discute o aprofundamento da democracia e a convocação de uma Assembleia Constituinte na França.
Apesar do estado de urgência, que limita a realização de grandes reuniões públicas em razão do risco de terrorismo, o Ministério do Interior vem autorizando a realização do evento, mas só até a meia-noite, quando a praça precisa ser esvaziada. Ontem, houve violência na retirada.
Reação ‘desproporcional’. Organizações estudantis como a União Nacional de Estudantes da França (Unef) e sindicais condenaram a violência dos manifestantes, mas protestaram contra a que consideraram uso excessivo da força. “A orientação foi para que a polícia fizesse uma oposição muito forte a toda manifestação de violência, para que a ordem pública seja respeitada e não haja excessos”, respondeu o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, que elogiou o trabalho das forças de segurança. “Os policiais se engajaram com força a tal ponto que vários deles foram feridos.”
Manifestações sindicais na terça-feira em Paris reuniram 14 mil pessoas, na contagem da polícia, e mais de 60 mil, segundo os organizadores – uma mobilização menor do que as anteriores.
Desde que o projeto de lei foi apresentado pelo governo Hollande, mais de 400 manifestantes já foram presos em razão de violência durante os protestos – e 350 agentes teriam ficado feridos em um mês e meio, de acordo sindicatos da polícia.