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Putin quer usar Copa do Mundo para abafar crimes de guerra na Síria, dizem ativistas

Human Rights Watch, jogadores profissionais no exílio e ONGs sírias estão divulgando alertas sobre o envolvimento do Kremlin no conflito

Por Jamil Chade , correspondente e Genebra
Atualização:

GENEBRA - Ativistas denunciam a tentativa do Kremlin de usar a Copa do Mundo para abafar os crimes de guerra cometidos pelo governo de Vladimir Putin, maior aliado do presidente sírio, Bashar Assad. Em uma campanha lançada nesta terça-feira, 22, a entidade Human Rights Watch (HRW) pede que líderes internacionais evitem o Mundial, que começa em menos de um mês, até que o mandatário russo mude sua postura. 

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"Líderes internacionaisdevem sinalizar a Putin que, se ele não mudar de política sobre as atrocidades na Síria, não estarão com ele na sala VIP dos estádios", disse o diretor-executivo da Human Rights Watch Foto: Mikhail Klimentyev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

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"Os russos fornecem armas, apoio militar e cobertura diplomática ao governo sírio, apesar das evidências de que essas autoridades deliberadamente atacam civis desde 2013", disse a entidade. "Ao receber a Copa, a Rússia está cortejando a opinião pública mundial e buscando respeito", disse Kenneth Roth, diretor-executivo da HRW. "Líderes internacionais devem sinalizar a Putin que, se ele não mudar de política sobre as atrocidades na Síria, não estarão com ele na sala VIP dos estádios."

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Nas últimas semanas, governos como o do Reino Unido, Islândia, Suécia e Polônia já indicaram que não enviarão seus representantes ao evento. 

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Segundo a HRW, ataques aéreos conjuntos de Síria e Rússia afetaram escolas, hospitais e mataram centenas de civis. Em Alepo, essas ações foram qualificadas como "crimes de guerra", com o uso de armas proibidas ainda do período soviético. 

"A Rússia continua a oferecer armas ao governo sírio, apesar das evidências de crimes de guerra e contra a humanidade", ressaltou a entidade, acrescentando que Moscou é responsável por 79% das exportações militares ao governo de Assad. 

"A abertura da Copa vai ocorrer sob o pano de fundo de uma violação de direitos humanos persistente e severa na Síria, onde civis continuam a enfrentar riscos de vida, uso de armas proibidas e restrições de ajuda humanitária", alertou a HRW.

"Líderes autocráticos frequentemente buscam sediar eventos esportivos populares como forma de apresentar uma imagem positiva para o resto do mundo", disse Roth. "Líderes mundiais não devem permitir que eventos esportivos cubram um padrão de atrocidades na Síria", destacou. "Essa não é a hora de se unir a eventos que lustram as credenciais dos anfitriões, enquanto as forças russas estão ajudando ataques contra civis."

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Segundo Roth, os russos ainda se lançaram em uma campanha para encobrir politicamente e nos fóruns diplomáticos qualquer tipo de investigação contra Assad. Apenas no Conselho de Segurança da ONU, Moscou vetou 12 resoluções para proteger o regime de Damasco, impedindo inclusive a abertura de investigações sobre o uso de armas químicas ou o envio de informações ao Tribunal Penal Internacional. 

"A imagem de uma superpotência confiante e moderna que o Kremlin tenta projetar ao sediar a Copa é incompatível com os crimes que a Rússia subscreve na Síria", disse Roth. "Ninguém deve permitir que relações públicas no esporte cubram os abusos vividos pelos sírios nas mãos de seu regime e apoiado pelo aliado russo", completou. 

Cessar-fogo

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A pressão contra Putin também vem de ativistas sírios. Em um apelo lançado nesta semana, ONGs da Síria solicitaram que o russo e outros líderes internacionais cheguem a um acordo de cessar-fogo antes do início da Copa do Mundo. 

O grupo de ativistas que passou a se chamar "Nós Existimos" alertou que 300 mil sírios foram mortos desde o último Mundial. "A guerra continua a destruir vidas", alertou Bassam Al-Ahmad, diretor-executivo da entidade Sírios pela Verdade e Paz, uma das ONGs da aliança.

Outra iniciativa ainda lançou uma petição internacional para que o cessar-fogo seja negociado antes do dia 14 de junho. O projeto é da Sawa Diaspora, uma equipe formada por jogadores no exílio. "A Copa do Mundo pode ser um instrumento positivo", defende a petição dos jogadores profissionais.

 

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