Quarteto da Tunísia recebe prêmio Nobel da Paz por trabalho de democratização

Vencedores foram premiados por esforço em resgatar um país que estava perto da guerra civil, segundo Comitê do Nobel. Medalha entregue a vencedores é feita de ‘ouro ético’

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OSLO - O Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia recebeu nesta quinta-feira, 10, o prêmio Nobel da Paz em Oslo, na Noruega, por seu trabalho na construção de uma democracia plural no país.

Os líderes da Liga Tunisiana de Direitos Humanos (LTDH), da União Geral de Trabalhadores Tunisianos (UGTT), do sindicato e da Associação Nacional de Advogados - que fundaram o Quarteto em 2013 - receberam um prêmio em reconhecimento ao esforço para resgatar um país que estava perto da guerra civil, segundo o Comitê do Nobel.

Vencedores do prêmio Nobel da Paz 2015:Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia. Da esquerda para direita,Houcine Abassi, Mohamed Fadhel Mahfoudh, Abdessattar Ben Moussa e Wided Bouchamaoui Foto: Haakon Mosvold Larsen / AP

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O diálogo nacional não foi um processo simples e esteve suspenso por um mês no início, lembraram seus promotores, que consideram o Nobel uma "homenagem" ao povo tunisiano, e ressaltaram a importância de atores políticos, mulheres, jovens, intelectuais, sociedade civil e exército.

"Não renunciamos e continuamos trabalhando com os partidos, fizemos todos voltarem à mesa de diálogo. Graças ao consenso criado e impulsionado com o apoio do resto da sociedade civil, a transição foi completada com sucesso", disse Abdessattar Ben Moussa, presidente da LTDH, em discurso lido pelos quatro líderes.

A aprovação de uma nova Constituição e a realização de eleições livres foram o fim de um processo que teve origem nos protestos de dezembro de 2010, que começaram com reivindicações de "trabalho, liberdade e justiça social" e evoluíram para o pedido de mudança no regime político.

"Os sucessos obtidos na transição pactuada ainda exigem grandes esforços para que sejam fortificados e consolidados. Devem ser um ponto de partida para novos sucessos. Assumimos que há muitos desafios pela frente e que riscos significativos nos esperam", afirmou a presidente da patronal, Wided Bouchamaoui.

Bouchamaoui e Ben Moussa subiram ao palanque com o secretário-geral da UGTT, Husin Absi, e Mohamed Fadhel Mahfoudh, líder da associação de advogados.

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O Quarteto listou entre os desafios futuros a necessidade de instituições consolidarem a democracia, a recuperação e reformas econômicas para solucionar a pobreza, a desigualdade e a insegurança.

O processo político na Tunísia ter ido mais longe do que em outros países que protagonizaram a "Primavera Árabe" foi "consequência da vontade real de diálogo e da confiança e do apreço entre as partes", ressaltou o Quarteto, que defendeu também o direito dos palestinos de ter um estado independente.

A Tunísia é um exemplo de cooperação entre movimentos islamistas e seculares, e sua Constituição de 2014 é considerada "a mais igualitária e democrática" do mundo árabe, afirmou a presidente do Comitê do Nobel norueguês, Kaci Kullmann Five. "Quem afirma que o Islã e a democracia são incompatíveis ou que os partidos islamistas e seculares não podem trabalhar juntos pelo bem da sociedade só precisa olhar para a Tunísia", sustentou Kaci, que estreou em 2015 na presidência do Comitê, ressaltando o papel principal das mulheres nesse processo.

Kaci pediu ainda o apoio internacional para a consolidação da democracia tunisiana, que enfrenta desafios "urgentes" de segurança em razão da ameaça terrorista e precisa de ajuda econômica.

Vencedores do Nobel da Paz 2015 Foto:

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Prêmios. O Nobel da Paz entrega aos ganhadores oito milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,5 milhões). Além disso, os vencedores ganham também uma medalha de ouro. Na edição de 2015, será a primeira vez que ela será feita de “ouro ético”. Uma equipe de mineiros da cidade colombiana de Iquira, no sudoeste do Departamento de Huila, forneceu o ouro para o prêmio a partir de uma mina certificada como ética.

A medalha é resultado de uma cooperação entre a Casa da Moeda norueguesa, que produz a medalha, e a entidade colombiana sem fins lucrativos Aliança para a Mineração Responsável, com a finalidade de destacar os problemas enfrentados pelos mineiros que operam em pequena escala em regiões pobres do mundo. 

"Sentimo-nos muito orgulhosos de saber que o Prêmio Nobel foi feito com material que veio daqui, da nossa região, e é um material muito ético e justo", disse Jose Ignácio Pérez, um mineiro na Cooperativa Iquira, premiada com a certificação Fairmined por atender às exigências rigorosas sobre práticas responsáveis, proteção ambiental e desenvolvimento social. A certificação visa reduzir o impacto nocivo da mineração ilegal em países em desenvolvimento ricos em minerais.

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A produção de ouro tem sido associada a abusos nos locais de mineração, incluindo trabalho forçado e infantil, bem como o deslocamento forçado de populações e a degradação ambiental, segundo o grupo de direitos trabalhistas Verité, sediado nos Estados Unidos. /EFE e REUTERS

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