Quatro anos após morte de Kadafi, sua herança ainda pesa sobre a Líbia
Para especialistas, país levará anos ou décadas para construir uma identidade nacional que não esteja ligada ao legado do ex-ditador
Por Redação
Atualização:
TRÍPOLI - Quatro anos após a morte do ex-ditador líbio Muamar Kadafi, seu legado ainda pesa sobre o país, assolado pela violência e por lutas pelo poder, e ainda à procura de uma unidade nacional.
"Kadafi construiu um Estado em torno de sua personalidade" durante as quatro décadas que passou no poder", explica Michael Nayebi-Oskui, especialista em Oriente Médio no centro de reflexão americano Stratfor.
Cinco anos sem o ditador líbio Muamar Kadafi
1 / 18Cinco anos sem o ditador líbio Muamar Kadafi
Ditador líbio Muamar Kadafi
Muamar Kadafi apresenta sua família para jornalistas mulheres dos EUA em sua tenda beduína montada em Bab El-Assaria, região fortificada nos arredores... Foto: REUTERS/Kate DourianMais
Ditador líbio Muamar Kadafi
Também em 1986, de uma sacada do complexo de Bab al-Aziziya, em Trípoli, Kadafi faz discurso em que condena os EUA por ataque a uma de suas residência... Foto: Mais
Ditador líbio Muamar Kadafi
O ex-ditador aparece ao lado do então presidente do Egito, Hosni Mubarak (E) na cidade deMersa Matrouh Foto: REUTERS/Frederic Neema
Ditador líbio Muamar Kadafi
Kadafi é recebido no aeroporto de Tunis, em janeiro de 1990, pelo líder tunisiano Zine Al-Abdine Ben Ali (D) - primeiro ditador da região a cair duran... Foto: REUTERS/Frederic NeemaMais
Ditador líbio Muamar Kadafi
Ex-ditador líbio participa de conferência em Tripoli, em 1990; há 4 anos -depois de 42 anos no comando do país -Kadafi foi morto por rebeldes durante ... Foto: REUTERS/Charles PlatiauMais
Ditador líbio Muamar Kadafi
Em foto sem data, a enfermeira ucranianaGalyna Kolotnytska (5ª à direita) é vista ao lado de Kadafi; rumores não confirmados indicam queGalyna e Kadaf... Foto: REUTERS/Segodnya NewspaperMais
Ditador líbio Muamar Kadafi
Segundo na linha de comandode Kadafide 1969 até meados dos 1990, o major Abdel-Salam Jalloud empurra cadeira de rodas com o ex-ditador em 1998 Foto: REUTERS
Ditador líbio Muamar Kadafi
O reiAbdullah (E)da Jordânia, o presidente palestino Yasser Arafat (C) e Kadafi se reúnem em Sirte, na Líbia, em 1999; na ocasião, os dois líderes apo... Foto: REUTERSMais
Ditador líbio Muamar Kadafi
Muamar Kadafi participa de parada militar na capital líbia, Trípoli, em 1999 Foto: REUTERS
Ditador líbio Muamar Kadafi
Kadafi (de costas) recebe o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez (E), em maio de 2006 Foto: REUTERS
Ditador líbio Muamar Kadafi
Kadafi e o então presidente do BrasilLuiz Inácio Lula da Silva (E) se cumprimentam no primeiro encontro África-América do Sul, na Nigéria Foto: REUTERS/Brazilian Presidency/Ricardo Stuckert
Ditador líbio Muamar Kadafi
Em Paris, o ex-presidente da FrançaNicolas Sarkozy (E) recebe o ditador líbio para reunião, em 2007 Foto: REUTERS/Jacky Naegelen
Ditador líbio Muamar Kadafi
Em momento icônico durante sua fala na 64ª Assembleia-Geral da ONU, em 2009, Kadafi finge rasgar a Carta das Nações Unidas após acusar os países com p... Foto: REUTERS/Mike SegarMais
Ditador líbio Muamar Kadafi
Com uniforme militar, Kadafi participa das celebrações do 40º aniversário de sua chegada ao poder, em setembro de 2009 Foto: REUTERS/Zohra Bensemra
Ditador líbio Muamar Kadafi
Ao lados dos colegasHosni Mubarak (D), do Egito, eAli Abdullah Saleh (E), do Iêmen, Kadafi (C) tem momento de descontração em encontro Afro-Arábico em... Foto: REUTERS/Asmaa WaguihMais
Ditador líbio Muamar Kadafi
Kadafi cumprimenta o presidente dos EUA, Barack Obama, antes de encontro do G-8 na Itália Foto: REUTERS/Alessandro Bianchi
Ditador líbio Muamar Kadafi
Combatentes anti-Kadafi comemoram a queda do ditador líbio e mostram a tubulação de esgoto na qual ele foi encontrado 'como um rato', em 20 de outubro... Foto: REUTERS/Thaier al-SudaniMais
Ditador líbio Muamar Kadafi
Capas de jornais dos EUA repercutem a queda de Muamar Kadafi em 21 de outubro de 2011, um dia depois de o ex-ditador ser capturado e morto em Sirte, n... Foto: REUTERSMais
PUBLICIDADE
Ele "usou o dinheiro do petróleo para financiar um aparato repressivo destinado a esmagar toda a oposição, ao invés de construir instituições sólidas do Estado que poderiam sobreviver a ele", afirma.
"Vai levar anos ou décadas para que a Líbia possa construir uma identidade nacional."
Capturado e morto em 20 de outubro de 2011, após oito meses de conflito desencadeado por uma revolta popular, Kadafi governou o país com mão de ferro depois de tomar o poder em 1969 por meio de um golpe de Estado, abolindo o regime monarquista até então apoiado pelo Ocidente.
Desde sua morte, o país, de estrutura predominantemente tribal, está mergulhado no caos com disputas entre grupos armados rivais e autoridades pelo poder, apesar dos esforços das Nações Unidas para formar um governo de unidade nacional.
Em agosto de 2014, a capital Trípoli caiu nas mãos de milícias, algumas das quais islâmicas, que estabeleceram uma autoridade paralela à autoridade reconhecida pela comunidade internacional, forçada a fugir para o leste, em Tobruk.
Publicidade
Aproveitando o vácuo político e a insegurança, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) também se estabeleceu no país neste mesmo ano.
De A a Z. A Líbia também se tornou o playground favorito de traficantes sem escrúpulos, que organizam por enormes somas partidas para a Europa de milhares de migrantes, em sua maioria africanos, em embarcações frágeis, contribuindo para tornar o Mediterrâneo um vasto cemitério.
"Tudo o que Kadafi deixou para trás é corrupto: política, economia, sociedade e até mesmo o esporte. As leis, as regras de funcionamento (impostas por Kadafi) precisam ser mudadas de A a Z", dizem autoridades do governo paralelo em Trípoli.
"Ele jogou tribos locais e grupos étnicos uns contra os outros, o que explica a dificuldade para os líbios definirem atualmente uma identidade nacional", analisa Nayebi-Oskoui.
O especialista prevê que "o nome de Kadafi permanecerá onipresente, particularmente por conta do julgamento de seus parentes e dos eventos relacionados a ele como o atentado de Lockerbie". / AFP