José Salles era uma estrela em ascensão no antigo Partido Comunista Brasileiro quando chegou pela primeira vez em Havana, em meados dos anos 1970. Integrante da executiva e do secretariado do partido, ele era o emissário de Luiz Carlos Prestes em uma tarefa difícil. Reaproximar o partido brasileiro do governo de Fidel Castro. Os atritos entre os dois já duravam quase uma década. Quando decidiu apoiar a luta armada na América Latina, o regime cubano encontrou a resistência das maiorias nos diversos partidos comunistas locais. Esse foi o caso brasileiro.
Aqui, a política cubana atraiu os dissidentes do Partido Comunista Brasileiro, como o ex-deputado Carlos Marighella, que fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN) e pegou em armas contra a ditadura militar. Para o PCB, a decisão de Marighella seria derrotada. O partido acreditava e defendia que a ditadura só seria derrotada por uma ampla frente democrática de todas as forças políticas que se opusessem ao regime. "Foram dois encontros. Em ambos, Fidel foi muito generoso e atencioso. Estava interessado em nossa atuação no Brasil", contou Salles.
O primeiro deles havia acontecido pouco depois da vitória eleitoral da oposição nas eleições para o Congresso brasileiro em 1974. A ditadura parecia cada vez mais encurralada. "Apesar da valor moral daqueles que pegaram em armas contra a ditadura, essa não era a saída para nós".Fidel ouviu Salles. Ele interpretava o interesse de Fidel na reaproximação com o PCB como uma espécie de crítica velada da política de exportar a revolução empreendida pelos cubanos.
De Fidel, foi só o que obteve. A surpresa mesmo veio de Raul Castro, irmão do líder cubano. "O Raul disse que eles (os cubanos) haviam errado. Vi Raul dizer isso com esses olhos". Salles vê o processo cubano até hoje com suas especificidades que não devem ser repetidas ou desejadas, mas ainda acredita que são inegáveis os avanços obtidos sociais obtidos pela revolução cubana.