BERLIM - Quando o governo alemão atribuiu o atentado com um caminhão contra uma feira natalina de Berlim a um muçulmano tunisiano que havia pedido refúgio no país, cresceu a preocupação entre os cerca de 1 milhão de imigrantes que entraram no último ano na principal potência da União Europeia em busca de refúgio.
Entre as famílias que acompanham a repercussão do noticiário com apreensão está a da palestina Nevin Azak, de 44 anos. “Quando uma pessoa faz algo assim ela tem um impacto sobre todos os muçulmanos no mundo, sobretudo nós, que estamos na Europa”, reclama a mulher, que está há pouco mais de um ano na Alemanha. “Estamos justamente fugindo dessas pessoas e é injusto que nós paguemos por isso.”
A pressão que a chanceler Angela Merkel vinha sofrendo para impor restrições à imigração foi ampliada. O ministro da Justiça, Heiko Maas, afirmou na sexta-feira que haverá “rápidas consequências”, como a aceleração da deportação daqueles que tiverem seus pedidos de asilo negados e uma maior vigilância de indivíduos tidos como perigosos. Anis Amri, de 24 anos, o suspeito morto em Milão na sexta-feira, teve sua solicitação de refúgio rejeitada, mas o governo não pôde deportá-lo por falta do passaporte tunisiano.
Embora a aprovação de Merkel tenha voltado a subir recentemente – estava em 54% em outubro –, os mais duros golpes sofridos por ela tiveram como ponto central sua política para refugiados. Seu partido amargou derrotas históricas e vê aparecer um concorrente com um discurso conservador e xenófobo, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD). O triunfo recente de movimentos nacionalistas e populistas despertou na ala mais conservadora da CDU de Merkel propostas como a proibição da burca, do casamento envolvendo crianças e a escolha de uma nacionalidade pelos jovens alemães de ascendência estrangeira. Ela disputará o quarto mandato em 2017.
A história da palestina Nevin poderia ser a de muitos entre as centenas de milhares de refugiados sírios que buscaram um refúgio na Alemanha. Nascida em Gaza, mudou-se ainda criança com a família para Dubai, onde viveu por 30 anos. Quando o sogro morreu, o marido Mohamed Atmeh, muçulmano sunita também de 44 anos, resolveu voltar à Síria natal, para ficar perto da família. Lá, eles viveram a eclosão e o agravamento do conflito. A resposta do governo Merkel ao ataque em Berlim será fundamental para o futuro não só deles, mas dos cerca de 600 mil sírios que chegaram à Alemanha desde 2014 fugindo da guerra civil.