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Rebeldes xiitas tomam 3ª cidade do Iêmen, que se aproxima da guerra civil

Combatentes do grupo xiita Houthi, de oposição ao presidente do Iêmen, o sunita Abd-Rabu Mansur Hadi, tomaram ontem o controle da cidade de Taiz, a terceira mais importante do país, agravando uma disputa por poder que opõe interesses da Arábia Saudita e do Irã.

Por ÁDEN e IÊMEN
Atualização:

Moradores de Taiz, localizada entre a capital Sanaa e a segunda maior cidade do Iêmen, Áden, disseram que milícias houthis tomaram o aeroporto da cidade sem grande resistência das autoridades locais.

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De acordo com testemunhas, dezenas de tanques e veículos militares partiram de áreas controladas pelos houthis rumo a Taiz. Na cidade, ativistas disseram que atiradores houthis dispararam para o ar para dispersar protestos de moradores contra a presença do grupo.

O conflito vem se espalhando pelo Iêmen desde o ano passado, quando os houthis tomaram o controle da capital Sanaa e obrigaram o presidente Hadi a fugir - ele agora está isolado em Áden.

O avanço dos houthis, grupo apoiado pelo regime xiita iraniano, tem irritado os governos sunitas de países do Golfo, liderados pela Arábia Saudita. Ontem, o Irã pediu diálogo, mas sugeriu que Hadi deveria deixar o poder para evitar mais derramamento de sangue.

Líderes de monarquias do Golfo Pérsico e oficiais de segurança, no entanto, dizem que Hadi é o legítimo governante do Iêmen e eles estão prontos para realizar "todos os esforços" para defender a integridade do país.

"O Iêmen está descendo por um túnel escuro que pode ter sérias consequências para a segurança e a estabilidade da região", disseram autoridades locais, incluindo o ministro saudita do Interior, o príncipe Mohamed bin Nayef.

Manifestantes contrários aos Houthis na cidade de Taiz, sudoeste do Iêmen. Moradores dacidade,a maior de caráter sunita no sul do Iêmen, foram às ruas para protestar contra o grupo que avança pelo país Foto: REUTERS/Anees Mahyoub

A crise iemenita se agravou na sexta-feira, quando quatro homens-bomba, em dois ataques diferentes, detonaram seus explosivos em mesquitas xiitas em Sanaa, mataram pelo menos 137 pessoas. Foi o maior atentado da história recente do Iêmen. O Estado Islâmico (EI), de forte caráter sunita, reivindicou pela internet a autoria do atentado, mas os EUA não confirmaram o envolvimento do grupo no ataque. O EI, que considera os xiitas hereges, prometeu em um comunicado divulgado na internet não descansar enquanto não "extirpar" os houthis do Iêmen.

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Divergência.

O ataque de sexta-feira também ressaltou a disputa por influência entre Estado Islâmico e Al-Qaeda dentro da comunidade sunita, descontente com o avanço xiita no Iêmen. O EI disse que o atentado em Sanaa era "apenas a ponta do iceberg". Já a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) reafirmou que não ataca "mesquitas e mercados" para evitar a morte de "inocentes".

Após os ataques de sexta-feira, os EUA retiraram cem soldados do país por questões de segurança. As tropas americanas eram responsáveis pelas operações contra o braço da Al-Qaeda que atua na região. No mês passado, a Casa Branca já havia fechado sua embaixada em Sanaa após a capital ter sido conquistada pelos houthis.

Diante da escalada do conflito, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu ontem, em Nova York, em sessão extraordinária, para debater sobre a crise iemenita. Em nota aprovada por seus 15 membros, o organismo apoiou o presidente Hadi e condenou o avanço dos houthis.

Ilusão.

Jamal Benomar, enviado especial das Nações Unidas ao Iêmen, disse ontem que seria uma "ilusão" achar que as milícias houthis são capazes de dominar o país inteiro ou que o presidente iemenita tenha forças suficientes para expulsar os rebeldes xiitas do Iêmen.

"Qualquer um dos lados que quiser dominar o país estará criando as condições para um conflito prolongado no estilo de Iraque, Síria e Líbia", afirmou Benomar.

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/ AFP, REUTERS, AP E NYT

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