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Reconhecimento acelerado

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Já começaram as grandes manobras para o reconhecimento de um Estado palestino. O movimento já chegou aos Parlamentos europeus. Em outubro, o assunto foi discutido pelo britânico, em seguida, pelo espanhol. Ontem, foi a vez do francês se ocupar do problema. A Suécia, saltando todas as etapas, acaba de anunciar que desde já reconhece o Estado palestino. Por que essa brusca aceleração? A primeira razão é que já foi constatado o fracasso das negociações, intermediadas pelos americanos, entre a Autoridade Palestina (AP) e Israel. Há vinte anos, todas as tentativas, incluindo a última, do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, fracassaram. Há uma irritação crescente com relação a Israel, mesmo nos países que mostram mais boa vontade para com os israelenses. A violenta guerra de Gaza, com 2,1mil palestinos mortos, provocou um choque. Binyamin Netanyahu deixa irritada a maioria dos dirigentes ocidentais diante do seu endurecimento tanto do ponto de vista da segurança como de identidade. Mesmo o governo Obama tem manifestado sua impaciência, não obstante as relações estratégicas entre os dois países. Paralelamente, a AP, que dirige o Fatah de Mahmoud Abbas (moderado, se o compararmos ao Hamas que controla a Faixa de Gaza) vem ameaçando. Hoje, em uma reunião da Liga Árabe no Cairo, o Fatah deverá anunciar aos ministros do Exterior árabes que levará ao Conselho de Segurança das Nações Unidas um projeto de resolução fixando um fim da ocupação. Israel leva a sério a ameaça. Claro que os EUA, embora irritados com Netanyahu, devem se recusar a dar seu aval, mas França e Grã-Bretanha, membros do Conselho Permanente da ONU, poderão apoiar a resolução. Uma tal perspectiva inquieta Israel, que poderá se ver na posição de acusado, com o caminho aberto para ser acionado judicialmente pela guerra de Gaza e também, afirmam algumas pessoas, por acusações de crimes na Cisjordânia. Mas há mais um elemento que vem se adicionar às preocupações da comunidade ocidental: a vontade manifestada por Netanyahu de definir Israel como "Estado Nacional Judeu". Tal iniciativa teria consequência: o fim do direito de retorno dos refugiados palestinos. Por outro lado, uma população de 1,7 milhão de árabes palestinos seria relegada a um estatuto inferior, "ao esquecimento", dizem alguns analistas. E o mais grave, esse projeto implicaria a ideia de "um direito judeu de retornar à Palestina", transformando "ipso facto" o sionismo num movimento de "libertação nacional". Tal é o horizonte bastante sombrio onde se multiplicam, sem qualquer promessa de sucesso, as iniciativas com vistas ao reconhecimento do Estado palestino. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É CORRESPONDENTE EM PARIS

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