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REFORMA É 1º PASSO PARA INCLUSÃO DE IMIGRANTES

Família de clandestinos é um retrato da tragédia vivida por milhões de indocumentados nos EUA

Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

Erika Andiola tinha 11 anos quando saiu do México e entrou nos Estados Unidos com a mãe e três de seus cinco irmãos - os outros dois já haviam emigrado três anos antes. Seus sete sobrinhos nasceram nos EUA e são cidadãos americanos. No entanto, apesar de viverem no país há 17 anos, a matriarca Guadalupe continua a enfrentar o risco de ser deportada, mesmo com as mudanças anunciadas pelo presidente Barack Obama na quinta-feira.

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A família Andiola é o retrato do que ocorre com muitas das milhões de famílias indocumentadas que vivem sob o que Obama chamou de "sistema de imigração falido". Os pais dos sete sobrinhos que têm cidadania americana são ilegais e estão entre os principais beneficiados das novas medidas, previstas em decretos do presidente.

Erika e seu irmão mais novo se enquadraram em um ato de 2012 que suspendeu as deportações dos que haviam entrado no país com menos de 16 anos de idade e ainda não haviam completado 31 anos.

No entanto, Guadalupe está excluída dessas decisões e enfrenta um processo de deportação iniciado há dois anos, quando oficiais de imigração fizeram uma blitz em sua casa.

Seu destino depende do poder discricionário dos funcionários responsáveis por seu caso, que podem permitir que ela fique nos EUA ou ordenar sua deportação para o México. "Para minha mãe, não há nada lá. Minha avó morreu em fevereiro, ela não tem mais casa e não vê meus tios há anos", disse Erika em entrevista por telefone ao Estado.

A esperança da família é a nova orientação de Obama para que os oficiais de imigração deem prioridade à deportação de criminosos e de pessoas que entraram nos EUA desde o início de 2014. Os que têm filhos e estão no país há mais de dez anos deverão ser tratados com tolerância.

O presidente decidiu adotar as medidas por decreto depois de fracassar em suas tentativas de convencer a Câmara dos Representantes a votar o projeto de reforma do sistema de imigração aprovado no Senado em junho de 2013. No entanto, os seus poderes executivos são limitados, o que restringe o alcance das mudanças.

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Mesmo com o decreto, a situação da família Andiola é precária. Apesar de permitirem o trabalho legal, as medidas de 2012 e as anunciadas na quinta-feira apenas suspendem de maneira temporária as deportações - elas não legalizam a situação dos indocumentados nem permitem a obtenção da cidadania americana.

"Nós queremos que o Congresso aprove uma reforma de imigração que abra o caminho para a cidadania. O presidente não tem o poder de fazer isso. Ele só pode mudar a política de deportações", observou Erika, uma das diretoras da Dream Action Coalition, entidade que defende os direitos dos jovens indocumentados.

Esse grupo é chamado de "dreamers" (sonhadores), em razão de um fracassado projeto que tramitou no Congresso que previa a concessão de residência permanente aos imigrantes trazidos aos Estados Unidos por seus pais. A proposta era conhecida pela sigla DREAM, que correspondia às palavras, em inglês, para Desenvolvimento, Reparação e Educação para Menores Estrangeiros.

O ato de 2012 de Obama também foi adotado por decreto, depois que o DREAM morreu no Congresso. As novas medidas anunciadas na quinta-feira podem beneficiar até 5 milhões dos 11,4 milhões de indocumentados que vivem no país. A maioria deles está excluída dos benefícios. "Isso é apenas um passo. Nós temos um longo caminho a percorrer, porque muitas pessoas ficaram de fora", disse Erika, que estudou psicologia na Universidade do Arizona, onde vive.

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O número de famílias que reúnem cidadãos americanos e indocumentados cresceu na medida em que se ampliou o período de permanência dos imigrantes nos Estados Unidos. Dados do Pew Research Hispanic Trends Project mostram que o tempo médio de residência dos adultos sem documentos passou de 8 para 13 anos no período de 10 anos, entre 2003 e 2013.

Isso significa que pelo menos metade dos estimados 10,4 milhões de adultos ilegais está no país há mais de 13 anos, período suficiente para constituírem famílias e terem filhos, que automaticamente são cidadãos americanos.

Os pais de pessoas nascidas nos Estados Unidos compõem o maior universo dos favorecidos pelas medidas adotadas por Obama: eles são 4,1 milhões dos 5 milhões abrangidos pelos decretos. A condição é que eles vivam no país há mais de cinco anos.

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Os números do Pew Research mostram que apenas 15% dos adultos indocumentados estão nos EUA por um período inferior a esse. A maioria, cerca de 62%, vive no país há uma década ou mais, enquanto 21% estão nos Estados Unidos há mais de 20 anos.

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